A conversa era,
efectivamente, de má-língua. Em boa verdade, estava-se a ir bem longe no cortar
na casaca de alguém, baseado em rumores com origens esconsas e sem que nenhum
dos presentes conhecesse pessoalmente o visado. Aliás, não creio que algum dos
opinadores no local pudesse sustentar uma só que fosse das afirmações que iam
sendo proferidas.
Não é o tipo de
conversa que mais me agrade, mas também não tinha como sair dali. E ia
mantendo-me em silêncio.
Até que, a dado
passo, a paciência se me esgotou e afirmei que a pessoa em causa até é (ou era)
um estoira-vergas. E ia acrescentar pelo menos um episódio que sei, factual e que
me contado por um dos intervenientes. Não consegui.
A gargalhada foi
geral e a paródia enorme. Apenas em torno do termo estoira-vergas. Que nenhum dos
presentes conhecia e que foi, acto continuo, interpretada num sentido
completamente diverso do real.
Tive que puxar de
galões, acalmar as hostes, indicar o seu real significado e referir um ou dois
autores que usaram o termo num contexto radicalmente diferente do ali
interpretado. E tive que ir mais longe: quando as circunstâncias o permitiram,
senti-me na obrigação de rapar das tecnologias e aceder a um dicionário on-line.
Só mesmo para tirar teimas.
Fiquei triste. Uma
vez mais fiquei triste.
De alguns dos
presentes não esperaria mais. Pese embora não ser uma condição obrigatória,
tanto os seus interesses quanto as suas actividades e percurso académicos não
passam ou passaram por muita leitura e bom domínio dos vocabulários. Já nem
falo dos acordos ortográficos mas apenas dos vocábulos existentes e seus
significados.
Agora de outros
dos presentes, com funções e percursos supostamente ligados ao bem falar e ler,
à comunicação falada e escrita… total ignorância. Apesar de se assumirem como
especialistas na cultura e actuarem como tal.
Quando a cultura
de um povo (a sua língua) é desta forma malbaratada por quem tem a obrigação de
a manter viva e de boa saúde…
Por mim,
continuarei a fazer questão de ter sempre por perto, ao alcance da mão se possível,
duas ferramentas: destas.
Mais clássicas e analógicas
(não existe fotografia analógica, mas isso é outra conversa) ou mais modernas e
digitais, procuro que o que faço e digo tenha apenas as ambiguidades que quero
que tenha e não as resultantes da ignorância.
By me
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