Numa escola onde
trabalhei houve que, a dado passo, renovar todo o sector de fotografia. A
disciplina ou módulo tinha ganho peso e importância e haveria que dar aos
alunos os meios necessários às práticas e aprendizagens.
Tomada de vista e
laboratório.
O laboratório foi
construído de raiz por nós, eu e um compincha que lá também leccionava a matéria.
Foram muitas e muitas horas de carpinteiro, electricista, canalizador,
decorador… mas a coisa ficou que se visse: aspecto e funcionalidade.
Já a tomada de
vista foi mais complicado: haveria que renovar o equipamento que, e é sabido,
em saindo com os alunos torna-se perecível. Mesmo que com muitos cuidados e
recomendações.
Os conjuntos incluíam:
um saco, câmara, três objectivas, filtros e material de limpeza, um flash.
Os tripés eram à
parte e não se incluíam fotómetros. A escola tinha um, cada um de nós tinha os
seus que usava nas aulas, o que tinha a vantagem de ficarem os alunos a
conhecerem vários modelos, marcas e formas de funcionamento.
Depois de
pesquisado o mercado (não havia net nem compras on-line) lá se escolheu aquilo
que seria possível considerando robustez, disponibilidade e orçamento. E
apresentado o projecto a quem geria os dinheiros.
Foi uma discussão
feroz. Não foi contestado nem marcas nem fornecedores. Nem valores.
O que foi negado
foi a existência de três objectivas.
O projecto incluía
uma 28-80, uma 70-210 e uma 50. E a argumentação por parte da escola era:
“Para que querem a
50mm se a 28-80 cobre isso?”
A questão da
luminosidade ainda aceitavam; Afinal, em fotografia nocturna isso é vital.
Agora o aspecto mais importante, a disciplina interior de ver com um só ângulo
de visão e o domínio da perspectiva… isso foi bem difícil de engolir.
Lá acabámos por
ganhar a causa. E ainda estou por saber se não entenderia mesmo ou se seria uma
questão de marcar posição na gestão de dinheiros.
Não sei se o equipamento
de então ainda existe. Passaram muitos anos, a tecnologia evoluiu, tal como os
mercados e as mentalidades.
Mas ainda hoje
continuo plenamente convencido que, e para além do domínio da luz, tanto em
quantidade como em qualidade, o saber gerir a perspectiva, o saber mudar de
lugar, o saber pensar o como vemos e não apenas o que vemos, é vital.
Tal como não tenho
dúvidas que é o mais difícil de aprender e aquilo a que os estudantes ou alunos
menos importância dão.
Vem toda esta
história, velha de anos, a propósito do que vou vendo como conteúdos programáticos
em cursos e workshops.
Por aquilo que vou
entendendo, é dada demasiada importância à questão da medição e controlo da
luz, em desfavor dos jogos de perspectiva.
E, caramba! A perspectiva
é mesmo o que faz a diferença entre uma fotografia e uma fotocópia.
Formar
fotocopiadores é particularmente fácil. Mais ainda nos tempos que correm, com
os automatismos e os programas de edição. E o manual de instruções ajuda muito.
Agora ajudar a
aprender fotografia… Se a perspectiva não for central e de relevância no programa
de aprendizagem, não creio que valha o dinheiro que se paga!
By me
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