A história é
antiga. Antiga o suficiente para acreditar que talvez alguns dos que a possam
ler agora à época não soubessem ainda ler. E, por um qualquer motivo, creio já
o ter a ter contado on-line, não sei quando nem onde.
Mas como vem a
propósito de uma situação de que soube recentemente, aqui fica.
Naquele tempo
havia poucos com as minhas especialidades profissionais. O mercado, emergente
então, ainda não estava preparado com mão-de-obra especializada para atender
aos pedidos.
Por isso, alguns
de nós, fora das horas de trabalho normais, íamos atendendo os pedidos
externos, umas vezes aqui, outras ali.
Uma dessas
empresas tinha por sócio-gerente um aldrabão. Pagava mal e a desoras, sendo
sempre necessário umas conversas extras para que nos fosse entregue o que era
nosso por direito.
Um dia, eu e um
companheiro decidimos que já chegava.
Fomos à sede da
empresa pedir o pagamento final em atraso. Com a firme decisão de de lá
sairmos, pela última vez, com o dinheiro no bolso.
O encontro foi no
gabinete dele, ele sentado, nós de pé. E a sua conversa a do costume: “Agora não
convinha, talvez que mais lá para o fim do mês, nós telefonamos quando tivermos
os cheques prontos…” o costume.
Acontece que eu
estava mesmo já farto daquela conversa e não estive com meias medidas: Pondo as
mãos na cintura, tal e qual um varina, e puxando o colete para trás,
perguntei-lhe: “Então e como é que vai ser?”
O seu olhar
esbugalhou-se, já que com o meu gesto deixara a descoberto, como que por acaso,
aquilo que trazia do lado direito, entalado no cós das calças. Não era muito
grande ou barulhento, mas fazia o seu serviço com eficácia. E eu sabia-me
eficaz com ele.
O olhar de quem
estava sentado à nossa frente dançou da minha cintura para a minha cara, da
minha cara para a cara do meu companheiro, da cara dele para a minha cintura,
umas poucas de vezes. Sempre em silêncio, que os argumentos estavam já
esgotados.
Levantou a mão da
secretária, pegou no telefone interno (foi há já bastante tempo, lembram-se?) e
falou com alguém da empresa.
Algum tempo depois
saíamos de lá, cada um com o seu cheque devidamente preenchido e assinado. Que
fomos de imediato levantar, por via de dúvidas.
(Ressalve-se que
conhecíamos um pouco do seu passado, e sabíamo-lo habituado a este género de
argumentos, fosse ele a colocá-los, fosse ele o objecto deles).
Por vezes não são
necessárias palavras ou tons de voz exaltados para resolver os problemas: uma
mera sugestão de alternativas é suficiente.
By me
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