Há uns anos tive o
raro privilégio de visitar uma exposição de fotografias para cegos.
As imagens, aéreas,
estavam impressas em relevo e em alto contraste, preto, branco e cinzento. Os
visitantes com visão eram convidados a colocarem uma venda e fazerem a visita,
tentando ver com os dedos o que ali estava exposto.
Ao lado de cada
exemplar estava um imagem convencional do mesmo assunto, bem como um texto
explicativo impresso normalmente e em Braile.
Foi impressionante
aquilo que eu não “vi” com os meus dedos, pese embora estar acompanhado por
alguém da exposição, que me guiava e me lia o que estava escrito.
Tenho para mim que
aquela exposição, que até teve pouca divulgação, deveria ser visitada por todos
aqueles que se dedicam à comunicação. Visual ou outra.
Para que ali,
confrontados com a realidade, se apercebessem do que é comunicar para gente com
limitações físicas. Visuais ou auditivas. E para que ajustem o seu trabalho, ou
saibam fazê-lo, para todo o imenso público que não consegue aceder ao que fazem.
Já no que toca a
limitações cognitivas em gente dita normal, é muito difícil.
Que muitos são os
incapazes de ver para além da superfície das imagens, dos sons ou dos textos.
São demasiados os
que não entendem o sarcasmo, a ironia, o subliminar.
Comunicar para
esses é, provavelmente, das coisas mais difíceis a fazer, bem mais que para um
cego ou um surdo.
Que se é possível ultrapassar
de algum modo o silêncio ou a escuridão permanentes, já a idiotice, a preguiça
mental e a obstrução intelectual são barreiras quase inultrapassáveis.
Que os deuses nos
protejam dos “cegos-idiotas” deste mundo.
By me
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