terça-feira, 21 de abril de 2015

Acto fotográfico





Em tempos aconteceu em Portugal uma coisa chamada “Encontros de Fotografia de Coimbra”.
Todos os anos aconteciam naquela cidade, durante três semanas se a memória me não falha, exposições, conferências, workshops… A cidade vivia fotografia, em boa parte animada pelos estudantes, mas não só.
Enquanto existiram só falhei dois: o primeiro, que não soube da sua existência e um outro, porque estava doente.
Quer fosse e viesse no mesmo dia, usando um dos primeiros e o último comboio, quer ficasse por lá uma noite, degustava o que por lá acontecia, no heterogéneo que por lá acontecia, do experimentalismo aos clássicos, sempre numa adequação perfeita entre obras exibidas e locais de exibição.
Anos houve, aliás, em lá ia por duas vezes. Enquanto estive a trabalhar com jovens numa escola, ia lá uma primeira vez para gozo pessoal e definir itinerário em função do e onde exposto, e uma semana depois num autocarro cheio de gente nova, desejosa de aprender e de passar um dia diferente. Sair de manhãzinha, regressar já noite feita.

Um dos workshops a que não assisti versava a objectividade da fotografia.
Orientado por um fotojornalista alemão, propunha numa primeira fase o activar o temporizador da câmara, esperar que estive quase a obturar e arremessar a câmara ao ar, apanhando-a de seguida, claro. Tentava ele demonstrar, ao que soube mais tarde, até que ponto é possível fazer fotografia sem que a intervenção humanaa a moldasse ou condicionasse.
Não estive presente e ainda bem, que não sei se me arriscaria a atirar a câmara ao ar sem ter a certeza de que a conseguiria apanhar. O atlético nunca foi o meu forte.
Em qualquer dos casos, mesmo assim contestaria o exercício.
A escolha da objectiva, o local onde decorreu o exercício, o momento do dia, o suporte (cor ou p&b)… tudo isso seria intervenção prévia de cada um ou do grupo, não sendo nunca obra do acaso.

Diria eu que o principal de um trabalho fotográfico não será aquilo que esteve em frente da câmara mas o olhar de quem estava atrás dela. 

By me

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