segunda-feira, 6 de abril de 2015

Códigos





Neste mundo em que vivemos, as diferenças culturais são mais que muitas e bem evidentes: a língua, as danças, a gastronomia, os trajes, a mitologia…
Viajar de um ponto para outro distante pode ser pouco menos que um salto no escuro. A capacidade de comunicação fica reduzida a muito pouco, se não se dominar a língua, escrita ou falada. Sobram dois recursos, mais ou menos globais: o gesto e a imagem, desenhada ou não.
Esta é, sem sombra de dúvida, a parte da comunicação mais universal. Um cavalo é um cavalo, na Europa, Ameríndia ou Ásia. Com excepção de alguns pontos ainda não penetrados pela “civilização”, quem souber usar a imagem, sabe comunicar.
Mas os padrões não são iguais. Há algumas diferenças, ainda que subtis, dividindo o planeta em alguns grandes blocos. Quer tenha sido o desenho que influenciou a escrita (fonética ou ideográfica) ou vice-versa, a verdade é que a forma como a imagem se estrutura no espaço que ocupa varia.
Horizontal ou vertical, esquerda/direita ou ao contrário, a organização dos elementos pictóricos tem regras e significados diferentes.
A globalização (que não apenas económica mas, e principalmente, cultural) tende a padronizar estes aspectos, tal como outros. Mas a cultura não é algo que se imponha por decreto, como provou a falhada revolução cultural chinesa.
Se na fotografia, cinema e televisão, áreas que além de criativas são também bastante técnicas, no quotidiano, na vida diária de cada um, as coisas são um pouco diferentes.

A imagem acima é disso um exemplo. É uma nota Afgã, divulgada por cá através de um jornal.
Os códigos de escrita estão bem definidos. Escrita regional, para os locais entenderem, e caracteres mais ou menos universais para definir valor e origem. Até aqui pouco há de invulgar.
Mas observem-se os desenhos, os cavalos em particular. Correm da direita para a esquerda, num galope livre e intenso.
Uma leitura superficial pouco os dirá mas, a nós, ocidentais, mas não nos agradará. De acordo com os nossos padrões, correm “para trás”, uma atitude retrógrada. Poderíamos mesmo dizer que estão a fugir de algo. Mas para os Afgãos, onde a escrita e a leitura se fazem da direita para a esquerda, este é o sentido da liberdade, do progresso, do futuro.
Esta imagem será, eventualmente, evocativa de um qualquer momento histórico local, que dificilmente será o de uma derrota militar. A interpretação dos utilizadores desta nota será a de confiança e de confiança naquilo que o dinheiro significa.

Para aqueles que como eu vivem e dependem da imagem, esta questão de orientar os elementos que a constituem para um lado ou para o outro é banal. Fazemos isso quase que por instinto, usando-o como uma ferramenta de base.
Mas convém sempre lembrarmo-nos que os nossos códigos não são universais e que a nossa comunicação depende da nossa capacidade em usar uma linguagem conhecida e familiar do destinatário.

By me

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