Estávamos
de conversa e, a dado passo, disse-me que deixara de pagar multas de trânsito.
Pelo menos algumas. Que quando as deixam no limpa-vidros do carro olha para
elas e deita-as fora.
“Eles
que venham cobrar”, acrescentou.
Pormenorizando,
contou que a sau rua tinha sido objecto de mudança de trânsito e que passara a
ser proibido parar ou estacionar, como sempre fora. E que não tinha como
estacionar perto de casa, como sempre fizera, desde há mais de vinte anos.
“Não
me interessa! Não pago! Não é justo nem sequer faz sentido, que a rua é larga e
dá para tudo. Eles, se quiserem, que me processem!”
Mas
acrescentou, em tom mais baixo:
“Bem,
se depois e por causa disso me suspenderem o reembolso do IRS, vou lá e pago
tudo na hora, claro.”
No
início pensei que, apesar de o conhecer há muito, sempre seria um homem de
princípios, cá dos meus, que se bate por aquilo em que acredita.
Mas,
ao ouvir a conclusão, acabei por reconhecer o meu interlocutor:
Um
homem de princípios mas com fins rápidos. Bate-se por aquilo em que acredita,
desde que não saia prejudicado. Muito menos prejudicado no bolso ou no
conforto.
São
tantos os que assim se comportam que se os armasse e equipasse bater-me-ia de
igual para igual com os exércitos mais poderosos do mundo.
By me
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