A
senhora tinha uns olhos lindíssimos.
Muito
escuros, talvez pretos, com as pálpebras definindo um ovalado bem harmonioso,
cercadas por algumas rugas, não muitas, mas mais do que seria de esperar para
os seus trinta e muitos anos. A sua pele branca e loira, brilhava impoluta de
tintas ou pigmentos, o que fazia realçar mais ainda os seus olhos, lindíssimos.
Mas
o que primeiro me saltou à vista não foram os olhos, lindos que eram. Foi o ter
entrado naquela pastelaria com três pimpolhos, todos a chamá-la de “mãe”. É que
ter três filhos, nos tempos que correm, mais que incomum é um acto de coragem.
Pois
a criançada, o mais velho com os seus 11/12 anitos, os restantes em escadinha
por aí abaixo, encostaram no balcão, tentando escolher o doce ou bolo para o
lanche. E a mãe, que tinha uns olhos lindos, disse-lhes com o à-vontade de quem
está habituada a dizê-lo:
“Escolham
coisas realmente saudáveis.”
Talvez
mais que os olhos – lindos – e que a ranchada de filhos, foi a frase que me
atraiu a atenção.
A
mais pequenita ficou com um brigadeiro, o do meio com uma madalena, o mais
velhito com um donuts, fabrico da casa. E foram sentar-se com os seus petiscos.
O que a dona dos olhos lindos escolheu não fixei, que a minha atenção se
dividia entre os seus olhos e o meu duchesse regado com um café (cheio, assim
tipo banheira, está ver?).
Mas
a recomendação (e os olhos) ficaram-se-me na memória. Que raro é ver alguém com
esta preocupação verbalizada para com crianças pequenas. E se a coisa me tinha
marcado, haveria que fotografar, de preferência os olhos, que, se ainda não o
disse, eram lindos.
Vim
para a rua para aí a abordar e conseguir o registo daquela lindeza de olhos. O
que não consegui fazer, ainda que se tivesse sentido lisonjeada, já que um
ataque de modéstia, aliado ao insólito do pedido, levaram-na a recusar
argumentando que não se sentiria à-vontade para tal.
Ficou-me,
em alternativa, o fotografar os bolos sortidos da montra, atrás da qual aquela
mãe de olhos lindíssimos havia pedido à pequenada que escolhesse doces
saudáveis.
E
se, com todo este palavreado, contei o “quê, “quem” e “como”, faltou-me o
“onde” e o “quando”. Av. Do Uruguai, Benfica, hoje mesmo, pela tardinha.
Fico
eu com a secreta esperança de um dia ali voltar, pela tardinha também, e
re-encontrar aqueles olhos lindos, mesmo que não os fotografe.
By me
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