Um dia, estava eu
entretido com umas fotografias em casa, quando me tocam à campainha.
Fui ver quem era
naturalmente, e não muito bem disposto, que não gosto lá muito que me
interrompam quando estou nestas coisas.
O casal que me
aguardava no patamar da escada patenteou bem o seu espanto. Que se não
bastassem as barbas e o cabelo solto, de dentro de casa vinha o clarão de
talvez 2.000 watt de potencia de luz.
Queriam eles
convencer-me a comprar-lhes um seguro de saúde. Tiveram azar! Que não tenho eu
nenhum seguro de saúde, que não quero ter nenhum seguro de saúde e que não
recomendo ninguém a ter nenhum seguro de saúde.
Tenho por certo
que o Serviço Nacional de Saúde deve ser eficaz, rápido e para todos, seja qual
for a sua condição económica. E todos contribuírem para ele, na proporção dos
seus rendimentos e através dos impostos que pagam.
A existência de
seguros privados de saúde é mais um factor de clivagem social, em que os que não
têm possibilidade de a eles acederem ficam com as sobras da saúde em Portugal. Isto
porque quantos mais forem os que a isso aderirem, menos são os que fazem com
que o sistema público funcione, quer através da sua influência na sociedade,
exigindo-o, quer fazendo “sangrias” nos profissionais e demais recursos.
Em sendo banal
haver seguros privados de saúde, privam-se os que os não os têm de aceder aos
correctos cuidados de saúde.
E eu, que até poderia
com algum esforço ser utente de um desses seguros, faço questão de o não ser,
recorrendo ao público e exigindo que este seja tão bom como os melhores.
Não há cidadãos de
primeira e de segunda e todos, sem excepção, têm direito à saúde. Tal como ao pão,
à habitação, à educação… Recuso-me a colaborar em sistemas diferenciadores de
classe!
Disse-lho. Ouviram,
com o nível de espanto a aumentar nas suas caras e com algumas tentativas,
falhadas, de me convencerem do contrário.
O golpe de misericórdia
que receberam aconteceu quando lhes disse que o que eles faziam para ganhar a
vida (vender seguros de saúde) não lhes dava rendimentos suficientes para a
eles acederem. E que quantos mais vendessem menos possibilidades teriam de ter
um bom sistema público de saúde.
Não sei se a minha
porta, neste prédio de muitos apartamentos, terá sido a última em que tocaram
no meu andar. Mas o certo é que se afastaram para o elevador, deixando de parte
as restantes visíveis.
Aconteceu isto há uns
anitos. E continuo a acreditar no mesmo. Com a frustração de ver, a cada dia
que passa, as privatizações e delapidações do que é público a acontecerem. Cada
vez mais rápido e cada vez mais fundo.
Por este ritmo, em
breve terá acesso a coisas básicas apenas quem tiver recursos para as pagar. Aqueles
que já têm dificuldade em manterem-se vivos ficarão excluídos, classificados de
“resíduos humanos” e estando apenas à espera que passe o camião do lixo ou a
carreta, para os levar.
Não sei se é isto
que os estas linhas lêem querem.
Mas p’la certa que
não é o que eu quero!
By me
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