É
uma daquelas coisas que, juro, sempre me fez confusão.
Porque
raio se diz (ou pensa) “Fulano recebeu Cicrano”?
Não
me refiro a “receber em casa”. Afinal a casa de cada um é o seu local privado,
onde o acesso é condicionado a quem é convidado por quem lá vive. E o dono da
casa deverá “receber” as visitas
Também
não me refiro às relações entre estados. A ida de um dignitário de um país a
outro é uma visita, como se de casas se tratassem. E faz sentido ser tratado
com deferência, acompanhado ou recebido por alguém do mesmo estatuto: ministro,
presidente, deputado…
Refiro-me
mesmo à situação de um ministro “receber” cidadãos, de um presidente “receber”
partidos, de um deputado “receber” sindicatos…
Caramba!
Quem
assim “recebe” não é o dono de coisa nenhuma. É um funcionário público, no
exercício do seu mister, que tem uma reunião de trabalho com aquelas pessoas. Pessoas
ou grupos esses que, no fundo, são os seus patrões: pagam-lhe, mesmo que
indirectamente, o seu salário, são os proprietários, colectivamente, das residências
oficiais, gabinetes e palácios, e, em havendo alguma hierarquia, será uma ascendência
de quem vai sobre quem está. Um pouco como quem vai a uma repartição pública e
fala com alguém que está do outro lado da secretária ou balcão.
As
frases “o ministro recebeu os sindicatos” ou “o deputado recebeu uma delegação”
ou “o gestor recebeu os representantes” ou ainda “o director recebeu o delegado”
são a total inversão de valores.
Que
um eleito ou gestor de coisa pública não é dono de coisa alguma que não a sua
cota parte do país ou empresa, não sendo nem mais nem menos que aquele ou
aqueles que com ele falam. E o local onde essas reuniões de trabalho acontecem
não é um espaço privado, como se de casa se tratasse, mas tão só o posto temporário
de trabalho, de um contrato a termo certo, de um funcionário público.
Respeitemos
as verdadeiras hierarquias e nunca nos esqueçamos que, no tocante à coisa pública,
o verdadeiro dono somos nós.
By me
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