quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Luto! De luto!



Sentado no comboio, de regresso a casa, fico a saber que a fábrica Majora encerrou.
Aquela que tantas tardes e noites lúdico-pedagógicas me proporcionou, ao longo de muitos anos e desde muito cedo.
E, se me não acreditam, daqui sentado onde estou consigo ver a caixa do jogo de xadrês, bem como a já estafada caixa do jogo do monopólio. E a do Micado. E dois baralhos de cartas. Já nem quero falar no que a memória me conta.
Confesso que fiquei abanado e fechei o portátil. Doeu-me!
Entretanto, um grupo de senhoras estava de conversa. E, a certa altura, disseram que esta é a noite das bruxas e que os deputados não estariam a trabalhar amanhã. Não sei como chegaram a esta conclusão, mas foi o que afirmaram.
Não me contive e, levantando-me, meti-me na conversa. Esclareci-as que amanhã é dia da votação final do Orçamento de Estado e que estariam todos presentes. E que faria sentido lá estarmos também, os que pudessem, mostrando o desagrado.
A mais nova, com trinta e muitos e que estava de pé, disse-me:
“Não posso! Amanhã tenho que ir para a minha empresa, senão é pior.”
“Bem”, acrescentei eu, “não pode ir mas pode demonstrá-lo na mesma, usando algo como isto.” E, tirando do saco um lenço preto, atei-o ao pescoço.
Sorriu-me. Com um sorriso bonito, mas triste.
“Já iria de luto de qualquer forma. Vou tentar receber o que ainda conseguir, que a minha empresa – a Moviflor – declarou insolvência. Eu sou uma das despedidas e não sei se conseguirei receber o que tenho direito.”
Fiquei calado até à estação seguinte, que era a minha. Lado a lado com ela, que continuou a conversa com as amigas, numa falsa boa-disposição.
Enganam-se os ânimos, engana-se o povo, engana-se o estômago. Até que mais não haja para enganar. E seja a ruptura final.


De ora avante estarei assim. Por ela, por todos os outros, por todos nós. E também por mim mesmo, que em breve me tocará em sorte.

By me 

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