Sentado
no comboio, de regresso a casa, fico a saber que a fábrica Majora encerrou.
Aquela
que tantas tardes e noites lúdico-pedagógicas me proporcionou, ao longo de
muitos anos e desde muito cedo.
E,
se me não acreditam, daqui sentado onde estou consigo ver a caixa do jogo de
xadrês, bem como a já estafada caixa do jogo do monopólio. E a do Micado. E
dois baralhos de cartas. Já nem quero falar no que a memória me conta.
Confesso
que fiquei abanado e fechei o portátil. Doeu-me!
Entretanto,
um grupo de senhoras estava de conversa. E, a certa altura, disseram que esta é
a noite das bruxas e que os deputados não estariam a trabalhar amanhã. Não sei
como chegaram a esta conclusão, mas foi o que afirmaram.
Não
me contive e, levantando-me, meti-me na conversa. Esclareci-as que amanhã é dia
da votação final do Orçamento de Estado e que estariam todos presentes. E que
faria sentido lá estarmos também, os que pudessem, mostrando o desagrado.
A
mais nova, com trinta e muitos e que estava de pé, disse-me:
“Não
posso! Amanhã tenho que ir para a minha empresa, senão é pior.”
“Bem”,
acrescentei eu, “não pode ir mas pode demonstrá-lo na mesma, usando algo como
isto.” E, tirando do saco um lenço preto, atei-o ao pescoço.
Sorriu-me.
Com um sorriso bonito, mas triste.
“Já
iria de luto de qualquer forma. Vou tentar receber o que ainda conseguir, que a
minha empresa – a Moviflor – declarou insolvência. Eu sou uma das despedidas e
não sei se conseguirei receber o que tenho direito.”
Fiquei
calado até à estação seguinte, que era a minha. Lado a lado com ela, que
continuou a conversa com as amigas, numa falsa boa-disposição.
Enganam-se
os ânimos, engana-se o povo, engana-se o estômago. Até que mais não haja para
enganar. E seja a ruptura final.
De
ora avante estarei assim. Por ela, por todos os outros, por todos nós. E também
por mim mesmo, que em breve me tocará em sorte.
By me
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