Trovas
genealógicas
"Minha avó
era uma pulga
minha mãe era um
sardão.
Sou neto dum corno
velho
(não há pulga sem
senão).
Refrão:
Nascemos
intempestivos
dum coito de
ideias tolas
estamos vivos
estamos vivos
fomos feitos em
ceroulas.
Arre lagarto lagarto
lagarta da geração
mais vale morrer
de parto
que nascer de
inspiração.
Refrão:
Nascemos
intempestivos
duma réstia de
cebolas
estamos vivos
estamos vivos
fomos feitos em
ceroulas.
De sete primos que
tinha
quatro são peixes
da horta
dois peixes da
ribeirinha
e um peixe de
retorta.
Peixe-espada
peixe-cama
avó pescada do
alto
titicaca citirama
paisagem de pó de
talco.
Refrão:
Nascemos
intempestivos
do rolo das
pianolas
estamos vivos
estamos vivos
fomos feitos em
ceroulas
Jesu jesu que não
posso
dar passada no
passado
sem que tropece no
osso
de algum avô
desusado.
Ossos que dançam o
tango
caveiras
valsificadas
orangonassaugotango
esgotado de almas
panadas.
Refrão:
Nascemos
intempestivos
do tango das
castanholas
estamos vivos estamos
vivos
fomos feitos em
ceroulas
Tíbias perónias
famílias
rotuladas
titulares
chi de burro chá
de tília
esqueletos
protocolares.
Sentimentos
sedimentos
sacramentos
sedativos
alimentos
excrementos
mas nunca
preservativos.
Refrão:
Nascemos intempestivos
duma união de
santolas
estamos vivos
estamos vivos
fomos feitos em
ceroulas.
Jesu jesu que
pecado
impedir a
criancinha
de passar um mau
bocado
quando sair da
bainha
Jesu jesu que
pecado
pôr o ovo na
sentina.
Final:
Nascemos
rebarbativos
dum coito de
ideias tolas
estamos vivos
estamos vivos
fomos feitos em
ceroulas.
Nascemos
intempestades
dum parto de
ideias falsas.
Somos homens na
verdade
assim o provam as
calças."
Poema de José
Carlos Ary dos Santos
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