Tendo já passado
horas a fio, de pé e sem poder arredá-lo, num cruzamento de duas ruas e uma
praça num grande jardim de Lisboa, acabo por trocar alguns dedos de conversa
com os habituais do jardim, aqueles ali vão todos os dias, bem como com aqueles
que só lá vão de quando em vez. E até com aqueles que nunca lá tinham estado e,
provavelmente, não voltarão a estar.
Para com os
habituais, acabei por já quase que fazer parte da mobília, sendo que algumas
das conversas extravasam de longe o tempo, o negócio, as recordações ou um
qualquer outro episódio inconsequente.
Para alguns
destes, as conversas entram mesmo no campo das confidências, ouvindo eu
detalhes das suas vidas privadas, actuais ou distantes. Umas com graça, outras
mesmo sem graça nenhuma.
E destas últimas,
das que não têm graça nenhuma, bem pelo contrário, já perdi a conta às vezes
que ouvi dizer que, este mês, não deu para comprar os remédios todos. São
sempre idosos, reformados, que ali vão ocupar o tempo, quando o clima está de
feição e as maleitas da idade o permitem.
E quando, em
paralelo com estes desabafos, vejo anúncios na cidade, enaltecendo os hospitais
privados, os sistemas de saúde privados, os seguros de saúde privados, e tudo o
mais que se relaciona com a saúde e que só alguns alcançam, usando a frase “Nós
gostamos de si”…
Sinto vontade de
começar à pedrada!
À pedrada aos
anúncios, à pedrada aos hospitais, à pedrada àqueles que neles se inscrevem
para tirar umas rugas da idade enquanto que tantos outros não conseguem sequer
pagar o remédio para dar conta das dores da idade, aquelas que os impedem de
sair à rua para desabafarem sobre as mesmas dores com os outros que por lá
estão, com ou sem essas dores.
Eles gostam de
nós, dizem eles!
O que eles não
dizem é quais são as condições económicas que temos que ter para que eles
gostem de nós.
By me
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