domingo, 22 de abril de 2012

A religião e as "certezas" da informação




“Os Estados Unidos da América não têm uma religião oficial, ao contrário da maioria dos países ocidentais.”
Foi mais ou menos assim o texto que a jornalista leu antes de apresentar uma reportagem sobre uma campanha eleitoral nos EUA.
Esta afirmação até que acaba por ter graça, já que no dinheiro oficial desse país consta “In god we trust”, ou seja “em deus confiamos”.
Mas o que é mesmo grave é o que está meio escondido nesta frase: Que a maioria dos países ocidentais possuem uma religião oficial. Que isto não é verdade em geral e muito menos no que respeita a Portugal!
Na altura dei um salto na cadeira e apresentei o meu protesto junto de quem poderia ser considerado responsável pela afirmação. Inútil!
Com a determinação de quem entende estar certo à revelia de evidencias, foi-me afirmado que, ainda que a constituição portuguesa afirme o contrário, que a relação com o Vaticano seja apenas de acordos, tal como com outros países, e que a lei separe os poderes políticos dos religiosos, visto que a maioria da população portuguesa era católica isso tornava Portugal um país oficialmente católico e, portanto, religioso.

Aquilo em que se acredita é do foro íntimo de cada um e, no que toca a religião um pouco mais. Mas daí a levar as crenças e convicções pessoais a verdades indesmentíveis e universais e fazer passar isso num noticiário vai uma grande distância.
Não pode o jornalista, seja qual for o cargo que ocupa, misturar factos com opiniões. Sob pena de o conceito de isenção jornalística ser deitado às urtigas e de poder ser acusado, quiçá com motivos para tal, de querer usar os órgãos de comunicação social como forma de manipulação da opinião publica e de distorcer a verdade dos factos em prol de interesses ou convicções privadas.

Foi uma das conquistas da Revolução de Abril: a liberdade de imprensa e de informação. Mas foi também uma das obrigações que dela adveio: a responsabilidade de cumprir a ética jornalística.
Deixar que tempo volte para trás e permitir que os media sejam veículadores de opiniões como se de verdades se tratem, subversores dos factos e indutores das vontades de uns quantos é algo que não podemos, enquanto cidadãos conscientes e participativos, permitir que aconteça!

By me

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