“Os Estados Unidos
da América não têm uma religião oficial, ao contrário da maioria dos países
ocidentais.”
Foi mais ou menos
assim o texto que a jornalista leu antes de apresentar uma reportagem sobre uma
campanha eleitoral nos EUA.
Esta afirmação até
que acaba por ter graça, já que no dinheiro oficial desse país consta “In god
we trust”, ou seja “em deus confiamos”.
Mas o que é mesmo
grave é o que está meio escondido nesta frase: Que a maioria dos países
ocidentais possuem uma religião oficial. Que isto não é verdade em geral e
muito menos no que respeita a Portugal!
Na altura dei um
salto na cadeira e apresentei o meu protesto junto de quem poderia ser
considerado responsável pela afirmação. Inútil!
Com a determinação
de quem entende estar certo à revelia de evidencias, foi-me afirmado que, ainda
que a constituição portuguesa afirme o contrário, que a relação com o Vaticano
seja apenas de acordos, tal como com outros países, e que a lei separe os
poderes políticos dos religiosos, visto que a maioria da população portuguesa
era católica isso tornava Portugal um país oficialmente católico e, portanto,
religioso.
Aquilo em que se
acredita é do foro íntimo de cada um e, no que toca a religião um pouco mais.
Mas daí a levar as crenças e convicções pessoais a verdades indesmentíveis e
universais e fazer passar isso num noticiário vai uma grande distância.
Não pode o
jornalista, seja qual for o cargo que ocupa, misturar factos com opiniões. Sob
pena de o conceito de isenção jornalística ser deitado às urtigas e de poder
ser acusado, quiçá com motivos para tal, de querer usar os órgãos de
comunicação social como forma de manipulação da opinião publica e de distorcer
a verdade dos factos em prol de interesses ou convicções privadas.
Foi uma das
conquistas da Revolução de Abril: a liberdade de imprensa e de informação. Mas
foi também uma das obrigações que dela adveio: a responsabilidade de cumprir a
ética jornalística.
Deixar que tempo
volte para trás e permitir que os media sejam veículadores de opiniões como se de
verdades se tratem, subversores dos factos e indutores das vontades de uns
quantos é algo que não podemos, enquanto cidadãos conscientes e participativos,
permitir que aconteça!
By me
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