segunda-feira, 30 de abril de 2012

Há seis anos




Há seis anos escrevia eu o que se segue.
Mudando apenas as idades referidas, poderia eu escrever exactamente o mesmo hoje. Com o triste acréscimo de saber que as luzes de alarme estão, na sua grande maioria, mais que apagadas – fundidas.
Espero que quando se voltarem a acender, não seja tarde demais para muitos.


Há trinta e dois anos caiu o regime fascista português.
Terminou a polícia política, terminou a guerra colonial, passámos a ser livres de pensar, de falar, de agir, de reunir…
Atrás do militares, e sobrepondo-se a eles, a população portuguesa com mais ou menos conhecimento do que a atormentava, veio para a rua e tomou conta dos acontecimentos.
Engalanámo-nos com cravos, fomos exemplo para o resto do mundo e tivemos os contendores da guerra-fria de olho em nós, não fora alguma coisa “perigosa” acontecer.

Trinta e dois anos passados, esta data de “25 de Abril” mais não é que uma memória e a oportunidade de gozar um feriado, de preferência com uma ponte pelo caminho.
Muitos dos que a viveram perderam ou vão perdendo a energia, que trinta anos é muito tempo, os que a não viveram nunca sentiram o que ela, a revolução, significou.
É apenas mais um feriado, como o 1º de Dezembro ou o 10 de Junho: uns discursos, uns desfiles pitorescos, uns filmes evocativos e pouco mais.

Em boa verdade, mais não deve ser.
As revoluções têm o seu tempo e os seus revolucionários, há coisas que têm que ser mudadas e evitado o seu retorno. Que raramente volta. Da mesma forma!
Mas o espírito que a alimentou, o que fez milhões de portugueses saírem para as ruas, rindo, batendo palmas e chorando de alegria, esse deve ser mantido vivo!
O desejo de que as “classes sociais”, a terem que existir, não estejam tão separadas, que a fome de barriga, de coração e de cabeça não mais retorne, que a sociedade seja solidária por inteiro… Tudo isto deve continuar vivo em cada um.

Mas não está!
Aqueles que mantêm os cidadãos vivos e produtivos fazem-no, as mais das vezes, para que o resultado dessa produção se reflicta, em primeiro lugar, nas mais valias que esses mesmos desejam. E, para tal, aqueles que para eles trabalham, têm que se manter em forma e alimentar a produção e a novel competitividade.
A polícia política, enquanto tal, terminou. Mas temos as novas formas de controlo, com as bases de dados incontroláveis nas mãos não se sabe de quem, as intercepções ao tráfego electrónico, a localização dos cidadãos pelo seu telefone móvel, as câmaras de vigilância, a comunicação social veneranda e obrigada aos interesses dos seus empresários, ignorando a nobre tarefa dos media…
O acesso ao ensino superior é generalizado e incentivado, para depois os seus alunos irem fazer qualquer coisa que nada tem a ver com o que estudaram e aprenderam.
O acesso aos cuidados de saúde é cada vez mais difícil e caro, sendo o próprio estado, pelos seus governantes que supostamente representam a vontade popular, a incentivar o recurso aos meios privados.
Aumenta o número de horas de trabalho, diminuindo, em contrapartida, o valor hora que é pago aos que as trabalham.
Cada vez mais a sociedade está virada sobre o seu próprio umbigo, ignorando ou fazendo por ignorar o que se passa ao lado e o termo “solidariedade”!

Por isso, festejar o 25 de Abril pouco mais será que honrar a memória dos que o fizeram. Porque o seus espírito, está morto e enterrado. Ou, na melhor das hipóteses, moribundo!
Pela parte que me toca, ainda não sei se o irei festejar. Não por desprezo aos que o fizeram, mas antes porque talvez esteja bem ocupado a tentar preparar um 26 de Abril, 18 de Maio, 29 de Agosto ou qualquer outra data que mereça ser comemorada por mais uns 32 anos.

Porque ainda acredito que “O povo é quem mais ordena”! E neste momento não consegue ordenar coisa alguma! Apenas julga que sim!

By me

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