Há seis anos
escrevia eu o que se segue.
Mudando apenas as
idades referidas, poderia eu escrever exactamente o mesmo hoje. Com o triste
acréscimo de saber que as luzes de alarme estão, na sua grande maioria, mais
que apagadas – fundidas.
Espero que quando
se voltarem a acender, não seja tarde demais para muitos.
Há trinta e dois
anos caiu o regime fascista português.
Terminou a polícia
política, terminou a guerra colonial, passámos a ser livres de pensar, de
falar, de agir, de reunir…
Atrás do
militares, e sobrepondo-se a eles, a população portuguesa com mais ou menos
conhecimento do que a atormentava, veio para a rua e tomou conta dos
acontecimentos.
Engalanámo-nos com
cravos, fomos exemplo para o resto do mundo e tivemos os contendores da
guerra-fria de olho em nós, não fora alguma coisa “perigosa” acontecer.
Trinta e dois anos
passados, esta data de “25 de Abril” mais não é que uma memória e a
oportunidade de gozar um feriado, de preferência com uma ponte pelo caminho.
Muitos dos que a
viveram perderam ou vão perdendo a energia, que trinta anos é muito tempo, os
que a não viveram nunca sentiram o que ela, a revolução, significou.
É apenas mais um
feriado, como o 1º de Dezembro ou o 10 de Junho: uns discursos, uns desfiles
pitorescos, uns filmes evocativos e pouco mais.
Em boa verdade,
mais não deve ser.
As revoluções têm
o seu tempo e os seus revolucionários, há coisas que têm que ser mudadas e
evitado o seu retorno. Que raramente volta. Da mesma forma!
Mas o espírito que
a alimentou, o que fez milhões de portugueses saírem para as ruas, rindo,
batendo palmas e chorando de alegria, esse deve ser mantido vivo!
O desejo de que as
“classes sociais”, a terem que existir, não estejam tão separadas, que a fome
de barriga, de coração e de cabeça não mais retorne, que a sociedade seja
solidária por inteiro… Tudo isto deve continuar vivo em cada um.
Mas não está!
Aqueles que mantêm
os cidadãos vivos e produtivos fazem-no, as mais das vezes, para que o
resultado dessa produção se reflicta, em primeiro lugar, nas mais valias que
esses mesmos desejam. E, para tal, aqueles que para eles trabalham, têm que se
manter em forma e alimentar a produção e a novel competitividade.
A polícia
política, enquanto tal, terminou. Mas temos as novas formas de controlo, com as
bases de dados incontroláveis nas mãos não se sabe de quem, as intercepções ao
tráfego electrónico, a localização dos cidadãos pelo seu telefone móvel, as
câmaras de vigilância, a comunicação social veneranda e obrigada aos interesses
dos seus empresários, ignorando a nobre tarefa dos media…
O acesso ao ensino
superior é generalizado e incentivado, para depois os seus alunos irem fazer
qualquer coisa que nada tem a ver com o que estudaram e aprenderam.
O acesso aos
cuidados de saúde é cada vez mais difícil e caro, sendo o próprio estado, pelos
seus governantes que supostamente representam a vontade popular, a incentivar o
recurso aos meios privados.
Aumenta o número
de horas de trabalho, diminuindo, em contrapartida, o valor hora que é pago aos
que as trabalham.
Cada vez mais a
sociedade está virada sobre o seu próprio umbigo, ignorando ou fazendo por
ignorar o que se passa ao lado e o termo “solidariedade”!
Por isso, festejar
o 25 de Abril pouco mais será que honrar a memória dos que o fizeram. Porque o
seus espírito, está morto e enterrado. Ou, na melhor das hipóteses, moribundo!
Pela parte que me
toca, ainda não sei se o irei festejar. Não por desprezo aos que o fizeram, mas
antes porque talvez esteja bem ocupado a tentar preparar um 26 de Abril, 18 de
Maio, 29 de Agosto ou qualquer outra data que mereça ser comemorada por mais
uns 32 anos.
Porque ainda
acredito que “O povo é quem mais ordena”! E neste momento não consegue ordenar
coisa alguma! Apenas julga que sim!
By me
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