Conta-se, e da
veracidade da história não sei, que algures pouco tempo após a revolução de
Abril um líder de extrema esquerda português se terá encontrado com um líder político
escandinavo.
Ter-lhe-á dito o
português: “Sabe, nós em Portugal queremos acabar com os ricos.” Ao que o
escandinavo terá respondido “Pois nós cá queremos acabar com os pobres.”
Como disse, não
sei se será verdade, mas o certo é que hoje mesmo ouvi uma conversa feminina no
comboio. Dizia ela, ao telemóvel:
“Oh Chico, eu não
te posso dar isso! Eu já não tenho comida em casa, eu já não como o pequeno-almoço,
eu já não tomo a medicação… Eu já não isso tudo e ainda tenho que pagar o passe
para ir trabalhar. Oh Chico, eu não te posso dar isso!”
Só pela voz posso
afirmar que se tratava de alguém jovem. Não tive coragem de olhar para o banco
atrás de mim para saber, ainda que a tentação fosse grande.
Quando me levantei
para sair, aí sim, olhei mesmo que não pareceria mal, mas quem quer que fosse já
havia saído.
Não me interessa
saber se a estratégia é acabar com os ricos se é acabar com os pobres. O que me
importa, isso sim, é que conversas destas não tenham lugar. Saber que há quem não
coma, que não se medicamente e que, ainda assim, continue a trabalhar é, no mínimo,
um regresso à escravatura.
A propriamente dita
e a mental, talvez bem pior.
By me
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