sábado, 7 de abril de 2012

Não me interessa o como




Conta-se, e da veracidade da história não sei, que algures pouco tempo após a revolução de Abril um líder de extrema esquerda português se terá encontrado com um líder político escandinavo.
Ter-lhe-á dito o português: “Sabe, nós em Portugal queremos acabar com os ricos.” Ao que o escandinavo terá respondido “Pois nós cá queremos acabar com os pobres.”
Como disse, não sei se será verdade, mas o certo é que hoje mesmo ouvi uma conversa feminina no comboio. Dizia ela, ao telemóvel:
“Oh Chico, eu não te posso dar isso! Eu já não tenho comida em casa, eu já não como o pequeno-almoço, eu já não tomo a medicação… Eu já não isso tudo e ainda tenho que pagar o passe para ir trabalhar. Oh Chico, eu não te posso dar isso!”
Só pela voz posso afirmar que se tratava de alguém jovem. Não tive coragem de olhar para o banco atrás de mim para saber, ainda que a tentação fosse grande.
Quando me levantei para sair, aí sim, olhei mesmo que não pareceria mal, mas quem quer que fosse já havia saído.

Não me interessa saber se a estratégia é acabar com os ricos se é acabar com os pobres. O que me importa, isso sim, é que conversas destas não tenham lugar. Saber que há quem não coma, que não se medicamente e que, ainda assim, continue a trabalhar é, no mínimo, um regresso à escravatura.
A propriamente dita e a mental, talvez bem pior.

By me 

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