quinta-feira, 19 de abril de 2012

Exemplos




Durante alguns anos estive a dar aulas. Daquilo que sei fazer na vida e a adolescentes, na sua grande maioria.
O objectivo desse trabalho que fiz com aquela gente foi expor-lhes o meu conhecimento e promover práticas de forma organizada para que eles pudessem aprender.
De entre as diversas técnicas usadas para que aprendessem, uma a que sempre dei a maior importância foi o exemplo. Não pode alguém esperar sucesso na aprendizagem se, ao ajudar a aprender, as suas próprias práticas não forem exemplares. A frase “Olha ao que eu digo, não olhes ao que eu faço” não se aplica de forma alguma neste caso.
Nada do que eu lhes sugeria que fizessem, teórico ou prático poderia ser algo que eu mesmo não pudesse fazer, demonstrar e justificar.
Só assim a aprendizagem se pode conceber, quando quem ajuda a aprender é um exemplo a seguir.
Acontece que, mesmo não tendo eu esta experiência de ordem prática, o bom senso leva-me a perguntar que tipo de conhecimentos e práticas são preparados em muitas escolas de condução em Lisboa quando são os próprios formadores que cometem ilegalidades, que infringem o código da estrada. Que tipo de exemplo dá um formador que assim procede?
Exemplo diário e espalhado pela cidade é o estacionamento de viaturas de instrução enquanto esperam pelo novo instruendo da hora seguinte. Vemo-los em segunda fila, ocupando a faixa de rodagem, em cima de passadeiras de peões, em cima de passeios, em cima de traços continuos…
Posso presumir que o instruendo anterior deixou assim o carro, com o beneplácito do instrutor. E terá ganho o hábito de assim fazer. Tal como o que ali inicia a aula ganha o hábito de ver viaturas assim estacionadas com o consentimento de quem lhe dá exemplos e “boas” instruções.
Pergunto-me ainda que tipo de condutores e com que respeito pelo código da estrada saem destas escolas? E que tipo de fiscalização é feita a essas escolas? Não apenas nos critérios técnicos e nas habilitações académicas que os instrutores possam ter como nas práticas que fomentam.
Mas, no meio de tudo isto, o mais grave até nem será isso!
Estes estacionamentos indevidos, estes atrapalhar do trânsito, estas infracções ao código acontecem todos os dias, sempre nos mesmos locais. Com a mesma regularidade com que são dadas as aulas. Seria fácil, demasiado fácil, que as autoridades policiais interviessem na situação. Tanto com simples actos pedagógicos, obrigando as viaturas a desses locais saírem, como sancionando os instrutores com o mesmo tipo de coimas e rigor com que são sancionados os demais condutores de automóvel. Aliás, com mais rigor, que de um instrutor, formador ou professor se espera que seja exemplar na conduta que serve de referência aos alunos, formandos, instruendos.
Mas, devo confessar, já por mais que uma vez tentei que agentes da PSP nas imediações interviessem. Em vão! Desculpas, argumentos, conversa fiada e, quando tudo isso acaba, já os carros ali não estão. Foram sempre bem convenientes, aqueles protelar de atitude.
Devo acrescentar, a bem da justiça, que esta situação não se restringe aos carros, escola e local visíveis na imagem. Assim de cor, e sem que nunca tenha feito uma pesquisa sobre o assunto, posso indicar mais cinco locais na cidade e mais três escolas de condução, todas coincidentes na prática ilegal de estacionar onde não é permitido.

Enquanto cidadão, incomoda-me saber que os futuros automobilistas tiveram este tipo de exemplos na aprendizagem. Exemplos que, muito naturalmente, a maioria seguirá, pondo em risco a sã convivência na estrada e a segurança de quem conduz ou caminha.
Enquanto professor ou formador, fico furioso ao constatar que tal actividade é levada a cabo com tamanha leviandade e total inconsciência da missão que desempenham.
Enquanto Português, ranjo os dentes de raiva em saber que as autoridades sabem deste constante infringir o código da estrada, sempre nos mesmos locais e horas, e não actuam.

Um dia que queira “tirar a carta”, terei que fazer um estudo sobre as competências das escolas existentes e criar um “rating”. Fica-me, por agora, a dúvida sobre quantas, em Lisboa, obteriam nota positiva.

By me 

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