Não mais sou
fotógrafo!
Doravante
considero-me, e assim gostarei de ser tratado, como iconógrafo, um fazedor de
ícones.
Porquê esta
mudança? Substancialmente devido às discussões que proliferam em tudo quanto é
lado sobre se determinada imagem é ou não fotografia. As confusões sobre este
tema são tantas que decidi colocar-me à margem delas.
Para todos os
efeitos, as imagens são ícones.
Produzidas por
meios foto-mecânico-quimico-eléctronicos, são o substituto de uma realidade,
imagens representativas, ícones daquilo visto ou sentido pelo seu autor e como
tal interpretado pelos que as vêem.
A alguns destes
ícones é dada a categoria de fidedigno, por serem fiéis aos acontecimentos
descritos. Fidedignos?!
Como pode uma
imagem ou ícone ser fidedigno se apenas mostra duas de quatro dimensões?
Como pode ser
cópia da realidade se deixa de fora quatro dos cinco sentidos?
Como pode ser fiel
representação de um acontecimento se os bordos do seu enquadramento são como
guilhotinas afiadas truncando do todo o visível apenas uma parte?
Por fotografia
encontro num dicionário esta definição:
“do Gr. Phôs,
photós, luz + graph, r de graphein, desenhar
s. f. arte de
fixar numa chapa sensível, por meio da luz, a imagem dos objectos;
fig. Cópia fiel;
retrato”
Eu ponho em causa
quase tudo o que aqui se afirma, no que ao meu trabalho concerne:
- Não sabendo eu o
que é uma “fotografia artística”, como já aqui o afirmei, não posso dizer que o
que faço seja “arte”;
- Não uso chapas!
Já as usei, nos tempos em que trabalhava com grandes formatos (saudades,
caramba!). Agora uso película e flexível, em rolos ou, e é o que mais disso se
aproxima, suportes digitais, em que o CCD se poderá comparar a uma chapa, mas
não mais que isso;
- Cópia fiel não o
é! Eventualmente uma fotocópia sê-lo-á, mas não aquilo que faço com a minha
câmara.
O único aspecto
com o qual concordo é a definição de “retrato”.
Efectivamente
aquilo que faço (e entendo que todos os que usam câmaras fotográficas fazem)
são retratos daquilo que vêem. Imagens subjectivas e interpretativas daquilo
que vêem, sentem, pensam sobre o que está em frente da sua objectiva.
E depois do acto
fotográfico, da captura da luz (essa efémera), é tudo trabalhado, subvertido,
adulterado. Quer seja com químicos, com electrões, com a nobre prata ou os
menos nobres corantes. Embutidos ou projectados sobre papel ou pedaços
fosfóricos excitados por electrões.
Seja qual for a
técnica usada, não são nunca, por nunca o serem, cópias fiéis da realidade mas
tão só a minha interpretação dela. Da minha actividade resultam ícones do que
vi, senti ou pensei!
E se até agora me
intitulei de “fotógrafo” foi porque, tendo que haver um termo que definisse o
que fazia, este era consensual: fotografia!
Mas, nos tempos
que correm, são tantos os que a põem em causa, que argumentam se um dado
trabalho será ou não fotografia, se esta ou aquela imagem é ou não arte
fotográfica, que decidi deixar-me à margem de semelhantes discussões.
Aquilo que faço
com a minha câmara, químicos e computador são ícones dos meus sentimentos.
E eu sou um
iconógrafo!
By me
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