quarta-feira, 11 de abril de 2012

Prazeres secretos




Foi um processo que iniciei há algum tempo e que ainda não ganhou foros de rotina inconsciente. Por enquanto ainda é um acto deliberado, de que, por vezes, me esqueço. Mas cada vez menos!
O meu prédio, ou aquele onde resido, é grande. Não apenas na vertical como na horizontal, o que significa que tem muitos apartamentos, com muita gente a aqui viver.
O andar onde moro fica mais ou menos a meio, um pouco abaixo de meio talvez. O que significa que, de cada vez que uso o elevador para ir para casa, este fica a meio do seu curso.
Acontece que a esmagadora maioria das pessoas o usa, em metade das vezes, a partir do piso zero, aquele por onde entram no prédio. E são obrigadas, tal como eu mesmo, a esperar junto aos elevadores que chegue o que está mais perto.
Pois decidi, e quase que se tornou num hábito, que haveria de mandar de volta o elevador que me levou até casa. Em saindo dele, primo o botão zero e ele vai.
Que ganho eu com isto? Na prática, nada. Nem eu chego mais depressa onde quero ir, nem provoco poupança de energia, nem há quem venha agradecer, que ninguém sabe que o faço.
Mas ganho a subjectividade de saber que haverá alguém que ganhou uns segundos de vida para fazer o que lhe apetece que não apenas o esperar frustrante por um elevador.
E este meu prazer secreto, agora aqui desvendado, faz-me limpar os pés e entrar em casa com um muito ligeiro sorriso nos lábios, mesmo que, ao mesmo tempo, vá a correr pôr o guarda-chuva a escorrer.

By me 

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