Tenho para mim que
criatividade é o fazer de algo que tem que ser feito, o resolver de um
problema, baseado em premissas novas e de uma forma que agrade a quem o faz.
Também entendo que
a criatividade não passa em exclusivo pela chamada “arte”. Pode ser-se criativo
no modo como se colocam as iguarias numa travessa, na forma como se prendem as
jovens vides às estacas que as hão-de ajudar a crescer, no trajecto descrito
por uma esfregona ao lavar o chão…
Claro que o
esculpir de uma estátua, o colocar um enredo sob a forma de palavras, os passos
de dança ao som de uma música… também podem ser criativos. E são-no muitas
vezes!
Mas o fazer algo
que te que ser feito – porque há estímulos externos ou internos que a isso
obrigam – sempre da mesma forma, não é criatividade: é o repetir de uma rotina
adquirida ou de fórmulas sabidas.
A criatividade
está em encontrar novas soluções.
Em trabalhando com
jovens alunos de audiovisuais, a minha principal preocupação sempre foi que
encontrassem a sua própria forma de ver, a sua própria forma de resolverem os
problemas ou exercícios que lhes ia propondo.
Claro que, para
isso, haveria que aprendessem as técnicas existentes, as chamadas “regras de
comunicação” e os trabalhos dos mestres – os antigos e os contemporâneos. Para que
tivessem as “ferramentas” por forma a que pudessem materializar aquilo que a
sua mente criava, juntando aquelas com esta.
E, confesso, nunca
deixarei de me surpreender com a capacidade criativa dos alunos.
Mas a criatividade
tem, em regra, três problemas graves: pressão, orientação e tempo,
Por pressão
entendo a urgência em fazer o que tem que ser feito. Urgência esta que não se
prende com relógios ou calendários, mas antes com a necessidade de o fazer.
Normalmente, quanto mais necessário é o fazer de algo, ou mais criativo ou
menos criativo esse algo resulta. Ou bem que a solução encontrada é algo de
novo, fruto da conjugação de saberes, experiências e do desejo de fazer com
satisfação, ou então a execução acontece recorrendo a formulas sabidas, numa tentativa
de obter o máximo de eficácia com o mínimo de esforço material ou intelectual.
A orientação
refere-se às áreas para as quais quem faz tem mais prazer ou satisfação. Não é
comum encontrar criatividade numa tarefa que se detesta. Mesmo que não se saiba
que se gosta do que se está a fazer, há que ter uma empatia positiva com a
tarefa para que resulte em algo de criativo. Quando não, as mais das vezes, o
resultado é algo de repetitivo, banal.
A questão do tempo
prende-se com o tempo de vida. As mais das vezes, o pico de criatividade
acontece na juventude. O confronto com situações novas leva a soluções novas.
Mas, à medida que o tempo vai passando, que se vai adquirindo mais experiência,
a novidade vai diminuindo. O acumular de vivências, “problemas” e respectivas
respostas vai conduzindo à aplicação de técnicas adquiridas e soluções sabidas
como válidas. É o factor “economia de esforço” a aplicar-se novamente. Mas
alguns há, de mente inquieta e com mais perguntas que respostas, que conseguem
manter a sua criatividade bem activa ao longo de toda a vida.
Esta tem sido a
vertente que tenho tentado desenvolver junto dos alunos: que procurem manter em
desequilíbrio o rácio perguntas/respostas, com prevalência para as primeiras.
E se um dia um
aluno me apresentar esta imagem como sendo a fotografia de uma túlipa e,
confrontado com um pedido de explicação, me responder que é o espaço inter-molecular
de uma tulipa, poderemos discutir a eficácia da fotografia enquanto meio de
comunicação, bem como a técnica na sua obtenção, mas terei que aplaudir a sua
criatividade.
By me
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