segunda-feira, 9 de abril de 2012

Silêncio




Foi há uns dias e tratou-se de um momento raro na minha existência:
Alguém que me disse algo que me deixou sem lhe responder!
Contava-lhe eu o meu processo mental e prático de fazer o que tenho vindo a fazer desde há anos (imagem e texto em simbiose). O que surge primeiro, se o texto se a imagem, de que forma uma ou outro são desenvolvidos e qual dos dois ganha primazia nesse entretanto.
Pois perguntou-me ele, quase que em tom de desprezo, se isto não seria antes “ilustração” no lugar de “fotografia”.
Parei uns dois ou três segundos. Ponderei tempo, esforço e resultados. E calei-me.
É que não adianta explicar a alguém que o registo da luz, vulgarmente conhecido por “fotografia” é sempre uma ilustração. Uma ilustração de um sentimento, uma ilustração de uma ideia em concreto, uma ilustração do que se viu.
Se o que provoca todo o trabalho, por vezes complexo, de produzir uma imagem fotográfica são estímulos luminosos na retina que, por sua vez, provocam reacções neuro-mecânicas que resultam numa fotografia, ou se são estímulos neurónicos de origem interna que resultam no mesmo produto final, é-me completamente indiferente.
Há quem se exprima com letras, com acordes, com tintas, com pedra. Eu uso a luz e a palavra. E se o que veio primeiro foi o ovo ou a galinha… fico à espera que ele mo diga.
Tentar explicar-lhe isto seria, entendi eu, esforço inútil. Poupei-me ao trabalho.


By me

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