terça-feira, 10 de abril de 2012

Episódios




Quem acredita em fado, destino, astrologia e quejandos, provavelmente dará uma explicação cabal à luz de dessas ideias. Eu, como céptico, fico assim sem saber o que dizer!

Vinha do trabalho.
Tinha sido um dia pesado, longo e com responsabilidades e stress acrescidos. Estava cansado. Satisfeito com a forma como se tinha desenrolado, mas cansado. Para usar uma comparação, estava assim como que um balão, depois de uma festa de miudagem, já sem gás.
Ao chegar à estação dos comboios onde haveria um para me levar para casa, constato que o quadro sinóptico me avisa de estarmos a um minuto ou dois da chegada de uma composição.
“Boa”, disse para mim, “não vou apanhar uma seca!”
Na máquina dos bilhetes, uma pessoa tentava tirar um. Mas tudo lhe corria mal. Uma das moedas que inseria era repetidamente recusada, o que o obrigava a repetir a operação de início. E a esfregar a moeda na chapa, na esperança que fosse engolida pela máquina e não vomitada.
Os segundos passavam (5, 10, 20, 30…) e não havia meio de conseguir o almejado bilhete.
Na plataforma de embarque, um piso acima, sentimos a chegada do comboio. E o rapaz, nada! Atrás de mim, na fila, já estavam mais dois candidatos à viagem, com a impaciência de quem está quase a não apanhar o comboio.
Quando finalmente o papelinho saiu, o rapaz iniciou a corrida, escadas acima, em direcção à lombriga de ferro. Por mim, dei um passo ao lado convidei o que se me seguia a avançar.
Disse-lhe: “ Chegue-se! Recuso-me a correr para o comboio, que atrás deste vem outro!” Pegou a passagem enquanto o tempo passava e o comboio estava.
Com o seguinte, a coisa seria mais difícil. Tratava-se de um militar, novato nestas coisas de bilhetes com desconto, e não atinava com os códigos. Lá lhe dei uma mão, melhor, um dedo que os botões não são assim tão grandes.
Não havendo mais ninguém para se servir, lá paguei e recebi o papelinho impresso e dirigi-me às escadas. O comboio continuava lá em cima, numa interrupção da sua marcha particularmente longa e anormal.
Não acreditando que ainda conseguisse embarcar nele, subi as escadas com calma, que o corpo ainda se lembrava das horas seguidas agarrado à “rabicha do arado”.
Na plataforma, olhei lá para o fundo, enquanto me dirigia para a porta automática e aberta da carruagem: O semáforo estava vermelho, explicando a demora.
No momento em que cruzava a porta e buscava, com os olhos, um banco livre, o silvo de aviso das portas soou, a buzina da composição troou, as portas fecharam-se e a marcha iniciou-se. Com um atraso, bem medido, de uns cinco minutos.

Pergunto-me eu, meio esotericamente:
Se não tivesse cansado, se não tivesse cedido a vez na compra do bilhete, se tivesse galgado as escadas dois a dois, será que o comboio ainda lá estaria parado?

By me

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