Um
dia, de conversa com algumas colegas, falava-se de género e de olhares. Para
onde os homens olham quando vêem uma mulher, qual o aspecto feminino que os
atrai, e para onde olham as mulheres quando olham para um homem, que parte do
corpo lhes atrai a atenção.
Confesso
que fiquei particularmente surpreendido quando uma delas afirmou que as
mulheres olham para as mãos dos homens. Afirmação secundada por duas outras
colegas.
Não
fiz (ainda) uma pesquisa aprofundada sobre o facto. Suponho que haverá um fundo
de verdade e uma justificação para tal.
Mas,
sendo certo que há por aí quem queira acabar com o piropo, transformando-o em
crime de assédio sexual (sim, também eu falo da coisa, que está na moda)
pergunto se poderei considerar como assédio o facto de uma mulher, conhecida ou
não, me olhar para as mãos?
É
que, se assim for, tenho que mudar de indumentária. Passarei a usar luvas,
daquelas de inverno, grossas, só com duas cavidades, uma para o polegar, outra
para os restantes dedos. Porque eu, que sou tímido e recatado, não quero andar
por aí na rua ou no trabalho, a provocar pensamentos lascivos ou ridículos. Nem
quero andar a ser insultado em pensamento por quem conheço e não conheço.
Piadas
aparte (ainda que a opinião que foi formulada não seja piada) acho que essa
questão de criminalizar o piropo é um disparate. Mais, uma acto de lesa cultura
portuguesa. E explico:
Em
tempos, aquando do meu projecto “Old Fashion” no Jardim da Estrela, conheci uma
jovem da República Checa. Usava ela o jardim como local para a prática de ginástica
matutina ou vespertina, nos tempos deixados livres pela pesquisa que estava a
fazer para a sua tese de mestrado. Que, imagine-se, versava exactamente o
piropo em língua portuguesa.
Conversámos
algumas vezes sobre o seu trabalho e acabei assistindo-a com alguma literatura
sobre a matéria que possuo.
No
meio de tudo isto o que tem graça é que ela não considerava o piropo como um
insulto ou assédio. Entendia-o como uma cantata, mesmo as especialidades dos “trolhas
de andaime”, interessantes e agradáveis para as destinatárias, porque se trata
de elogios às formas e posturas femininas. Um alimentar o ego.
Acrescentava
ela que apenas lamentava que a mentalidade lusa o entendesse como insulto ou
assédio, demonstrando assim como ainda estamos atavicamente presos a conceitos
de segregação de género, em que o feminino é considerado o fraco, o frágil, não
podendo ser prejudicado. E, por outro lado, o ficar reservado ao homem o papel
de iniciar a corte ou de demonstrar interesse.
Culturas
são culturas e estou certo que entre a portuguesa e a checa não haverá muito de
comum neste campo.
Mas,
por vezes, necessitamos de olhares externos para vermos como somos
conservadores ou castrantes nos nossos comportamentos e opiniões. Ou discussões
absurdas de quem parece mais interessado num retorno às burkas que à efectiva
igualdade de género, como todas as outras igualdades.
Já
agora, e a título de informação completar, aviso que quem for de turismo à ilha
da Sardanha se deve abster por completo de usar o nosso quase inofensivo gesto
de manguito. Por lá, este gesto é interpretado como o cúmulo do insulto, dando
direito a prisão imediata.
Pelo
sim, pelo não, vou tratar de procurar as tais luvas.
By me
1 comentário:
Caro JC Duarte,
Tenha muito cuidado ao acenar dizendo adeus a uma mulher, o abanar de mão bem levantada ainda pode ser interpretado como uma provocação ou exibicionismo!
Joel Mota
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