Há
dias em que temos sorte! Mas não durante todo o dia.
Acordamos,
p’la força do hábito, ao raiar do dia ou mesmo antes. E dizemos, em voz alta ou
não, p’ro sol: “Vai andando que eu mais logo te apanho.” E viramo-nos p’ro
outro lado.
Quando,
depois de tudo decidido e higienizado, interior e exteriormente, achamos que é
hora de ir apanhá-lo, saímos p’ro café. Que é sempre bom tomar um café com bolo
p’ra começar o dia.
Na
lojinha do bairro, ambos nos esperam. Tal como nos aguarda um aparelho de
televisão, ligado e sintonizado num desses programas matinais de
entretenimento. Deste, jorra aquilo que deveria ser belo: o canto. Deveria,
porque não o é, nem pouco mais ou menos. Em tempos, tive uma espécie de
periquito que cantava melhor que este cavalheiro. E era atroz!
Mas,
e p’ra além do tom de voz e do desafinar do coitado, moeu-me a paciência o
maldito do refrão, cantado muito p’ra além daquilo que qualquer tribunal
deveria considerar crime muito grave:
“Sou
ninguém! Sem ti não sou nada!”
Entendo
que o desespero p’la solidão ou p’lo abandono amoroso seja penoso a ponto de se
gritar de dor. Escusava era de o fazer em público, com direito a divulgação nos
media. Mais p’ra mais com um grave ataque à língua que no une:
Que
o “não ser” e o “nada” é uma redundância de negativas, resultando numa
positiva. O oposto do desejado.
Perdi
hoje uma excelente oportunidade de sair da cama com o sol: no seu subir ou
descer no horizonte, ou mesmo no apogeu. Qualquer coisa que me evitasse esta
agressão sonora.
P’ra
quem assim canta e p’ra quem o escolheu para um palco televisivo, qualquer
penalização abaixo de umas valentes vergastadas em público é pouco!
By me
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