Sabemos
que a fotografia é um produto criado e desenvolvido na chamada sociedade
ocidental.
A
Europa e o continente norte-americano são as zonas do globo onde, para além de
muito produzirem fotografia, têm formas de a divulgarem massivamente. Quer
através das publicações que as usam como ilustração, quer através de publicações
que a têm por objectivo, quer através de exposições e galerias de arte.
Se
a isto acrescentarmos as questões da língua e/ou caracteres, quase que ficamos
restritos a estes continentes.
E
quando procuramos mestres ou referências na fotografia, a nossa mente vai,
quase que invariavelmente, para essas zonas. Quer os antigos quer o contemporâneos.
No
entanto seria presunção a mais entender que a fotografia só aqui acontece. A
difusão dos processos de produção e consumo está globalizada e em tudo quanto é
sítio (ou quase) se produz fotografia. Boa fotografia.
E
se é verdade que necessito de pistas para o meu próprio caminho fotográfico,
também é verdade que estou sempre curioso por saber que trabalhos são feitos
naquelas zonas do globo de onde nos chegam poucos indícios. Se alguns. Até
porque, convenhamos, as raízes culturais do mundo ocidental não são as únicas e
outras origens resultam noutras abordagens e estéticas.
Quando
posso, tento alargar os meus horizontes: África, América do Sul, Ásia… mesmo
mais próximo, como o norte ou o leste da Europa, de onde nos chegam poucos
trabalhos.
Um
destes dias tropeço neste livro, numa livraria. Tinha estado, guloso, a folhear
outras obras, algumas muito bem impressas, de nomes consagrados, quando o meu
olhar caiu sobre este. Com a lombada meio escondida no canto de uma prateleira.
Agarrei-o com sofreguidão. “Eis algo de muito pouco comum, de onde certamente
vou aprender algo”, pensei.
E,
dando de barato o seu preço, veio comigo.
O
primeiro olhar, ainda antes da caixa registadora, não me surpreendeu por
demais. As paisagens, os trajes, os objectos, até a luz, eram-me familiares. Até
porque, sejamos honestos, é uma zona do globo mais que mediatizada e não pelos
melhores motivos. Apenas dois autores, que fazem trabalhos mais gráficos que
fotográficos, sobressaíam pela diferença.
Depois,
fui degustar mais em profundidade o que ali se mostrava. E tive uma sensação de
frustração. Não senti grandes novidades no que ia vendo, um após outro. Nas
abordagens, nas estéticas, nas linguagens. Destes pontos de vista, a maioria
dos trabalhos poderia ter sido feito no Kosovo, no Paquistão, na Colômbia ou em
Nova York.
“Que
raio!”, pensei. “Será que se me escapa algo?”
E
passei da leitura das imagens à leitura das letras. Percebi tudo, então.
Com
duas honrosas excepções, os fotógrafos aqui representados, se bem que originários
do Médio Oriente, tinham formação académica ou local de residência no chamado “mundo
ocidental”.
Aquilo
que eu estava a ver não seria uma visão de alguém que ali vivesse e que
registasse de acordo com a sua própria cultura e forma de ser, mas tão só
olhares de alguém que, podendo ter ligações afectivas ou familiares com os
locais, pouco mais é que um estrangeiro na sua própria terra. Quase que
qualquer fotógrafo “ocidental” poderia ter feito o que ali está publicado.
Senti-me
frustrado e quase que dei por mal empregue o dinheiro gasto.
Só
quase, que ver de uma assentada uma boa mão-cheia de imagens bem feitas é
sempre lucro.
Mas
que não é o que esperava, lá isso não.
By me
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