Recordo ter sido num 25 de Abril. Estava “abancado” com o meu
projecto “Old Fashion” no Jardim da Estrela. Sendo feriado e estar um dia
bonito, contava ter clientela. Tive.
Mas, aquando da chegada e em passando pela esplanada, fiquei
babado de inveja.
Num canto do balcão alguns jornais velhos quase que brilhavam no
amarelecido do seu papel. E, olhando, vi que eram jornais publicados naquela
data mas do ano de 1974. Verdadeiras preciosidades.
Meti conversa com o dono da esplanada, que me disse que os tinha
comprado a um fulano, que por ali os andava a vender. E que os iria guardar bem
guardados.
Cheguei tarde, pensei.
Uma horas depois, já no meu posto entre o portão e o coreto, um
homem vem direito a mim. Pouco mais velho seria que eu e o seu aspecto mostrava
algumas agruras na vida. Mas não o seu sorriso!
Disse-me que tinha alguns jornais antigos para venda e
perguntou-me se eu estaria interessado.
Interessado estava eu, mas questionei-o sobre o como os tinha
arranjado.
“Naquela altura, comprava todos os que podia e que encontrava.
Sabia que eram história queria guarda-la. Mas os tempos mudaram e preciso do
dinheiro. Mas só os vendo a quem acho que os estimará. Você parece ser um
deles. Mas já só tenho estes, que foram os me sobraram. Os melhores já os
vendi.”
Comprei-lhos todos, mesmo alguns repetidos. E paguei o dobro do
que me pediu. Metade pelo valor que ele lhes atribuía, a outra metade por ter
reconhecido em mim alguém que os estimaria.
Nunca mais o vi, e espero que a vida lhe tenha mostrado um sorriso
equivalente ao que ele me mostrou.
Os jornais, esses, estão aqui, bem guardados do pó e da humidade. Quando
calha, lá os vejo e releio, sempre na diagonal.
Ter a história, aquela história, assim nas mãos toca-me fundo.
Para mais com esta história.
By me
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