Olho
para a janela do espaço a que pomposamente chamo de “estúdio”, no conceito original
do termo: local onde se estuda.
Lá
fora, o sol matutino tenta entrar, impedido pela cortina opalina que a côa e
difunde. Sobre ela, algumas sombras: dos batentes da janela, de um espanta espíritos
que está ali nem sei bem porquê, de duas bandeiras.
Que
eu tenho duas bandeiras na janela. Grandes, com um metro e vinte de comprido
cada uma. Uma bandeira nacional, outra bandeira negra. Ambas a precisarem de
serem substituídas, que o sol e a chuva as vão degradando. Mas em graus
diferentes. Que se a bandeira negra drapeja, fazendo ritmar o sol cá dentro, já
a verde e vermelha está amarrada ao mastro, enrolada e amarrotada. Mensagens
subliminares, que não sei se passam para quem passa.
Por
dentro, uma cortina preta. Não que esteja de luto, como com a bandeira, mas
para coar ao limite o sol que entra. Que se ele é a matéria-prima do que aqui
vou fazendo, por vezes gosto de armar em deus e produzir e controlar aquilo que
há-de iluminar o que vou fazendo.
A
meia distância entre mim e a janela um flash e um reflector-difusor. Ambos
pequenos e portáteis, mais ou menos adaptados ao espaço que tenho e ao que vou
fazendo. Não são os ideais, que o ideal é uma utopia, mas fazem o seu trabalho.
Em
cima um varão, que os outros estão fora de campo, onde penduro de tudo um pouco
menos políticos (infelizmente): fundos, luzes, objectos, difusores.
Pertinho
de mim, tão perto que se me encosta à cara, a câmara, com as suas pernas entre
as minhas, num enlace quase sensual.
Quando
olho assim para a minha janela, pergunto-me como sobreviveria se não tivesse Luz
e como a degustar.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário