domingo, 8 de setembro de 2013

Quase um ano



Nem todas as histórias têm um final feliz. Presumindo que o conceito de “feliz” é universal.
Há 51 semanas fiz a fotografia da esquerda. Para todos os efeitos, era mais uma fotografia de um sapato abandonado.
O que se torna engraçado, nisto de sapatos abandonados na linha de caminho de ferro, é pensarmos o como lá terão chegado. E, caso tenham caído directamente de um pé ao embarcar, como terá a sua dona seguido o resto da viagem.
Em qualquer dos casos, e sendo que foi feita na estação do meu bairro, todos os dias ou quase dava com ela, a sandália. Que foi estando.
Durante uns tempos aqui, onde se vê, depois mais para lá, e mais para lá, e saltou a linha, e foi-se afastando, até que acabou por parar, neste seu movimento de objecto inerte, junto ao muro, mais ou menos onde está aquele jornal da imagem da direita.
E ali esteve, uns meses.
Tornou-se quase que um desafio, ver quem desistia primeiro: se eu de dar por ela, se ela de ali ir ficando.
Aconteceu mesmo ver eu o pessoal que limpa as linhas, trabalho manual e apeado, feito com pinças e sacos. E a bela da sandália sempre a ultrapassar este ataque ao seu futuro, protelando o inevitável.
Há coisa de dois ou três meses fiz uma promessa secreta: se sobreviver um ano aqui, assim perdida, salto para linha e recolho-a. Não que tenha um especial fetiche por este tipo de objectos, mas por achar que a sua capacidade de sobrevivência merecia um prémio.
Não lho dei!
Esta semana constato que a eficácia de quem isto limpa funcionou e recolheram-na. Por uma questão de meros dez dias não a salvei. Nem acrescentei à lista de objectos improváveis que tenho em casa mais este.

Tem sido cada vez mais difícil encontrar sapatos abandonados na rua. Ou porque os serviços de limpeza são mais eficazes, ou porque eu ando mais distraído ou porque as pessoas, com a crise, menos os abandonam.

Mas convenhamos: é bem mais simpático fotografar sapatos abandonados na rua que pessoas abandonadas na rua. E, estas, são cada vez mais fáceis de encontrar!

By me

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