Nem
todas as histórias têm um final feliz. Presumindo que o conceito de “feliz” é
universal.
Há
51 semanas fiz a fotografia da esquerda. Para todos os efeitos, era mais uma
fotografia de um sapato abandonado.
O
que se torna engraçado, nisto de sapatos abandonados na linha de caminho de
ferro, é pensarmos o como lá terão chegado. E, caso tenham caído directamente
de um pé ao embarcar, como terá a sua dona seguido o resto da viagem.
Em
qualquer dos casos, e sendo que foi feita na estação do meu bairro, todos os
dias ou quase dava com ela, a sandália. Que foi estando.
Durante
uns tempos aqui, onde se vê, depois mais para lá, e mais para lá, e saltou a
linha, e foi-se afastando, até que acabou por parar, neste seu movimento de
objecto inerte, junto ao muro, mais ou menos onde está aquele jornal da imagem
da direita.
E
ali esteve, uns meses.
Tornou-se
quase que um desafio, ver quem desistia primeiro: se eu de dar por ela, se ela
de ali ir ficando.
Aconteceu
mesmo ver eu o pessoal que limpa as linhas, trabalho manual e apeado, feito com
pinças e sacos. E a bela da sandália sempre a ultrapassar este ataque ao seu
futuro, protelando o inevitável.
Há
coisa de dois ou três meses fiz uma promessa secreta: se sobreviver um ano
aqui, assim perdida, salto para linha e recolho-a. Não que tenha um especial
fetiche por este tipo de objectos, mas por achar que a sua capacidade de
sobrevivência merecia um prémio.
Não
lho dei!
Esta
semana constato que a eficácia de quem isto limpa funcionou e recolheram-na. Por
uma questão de meros dez dias não a salvei. Nem acrescentei à lista de objectos
improváveis que tenho em casa mais este.
Tem
sido cada vez mais difícil encontrar sapatos abandonados na rua. Ou porque os
serviços de limpeza são mais eficazes, ou porque eu ando mais distraído ou
porque as pessoas, com a crise, menos os abandonam.
Mas
convenhamos: é bem mais simpático fotografar sapatos abandonados na rua que pessoas
abandonadas na rua. E, estas, são cada vez mais fáceis de encontrar!
By me
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