sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Despertar



Ao longo dos tempos o ser humano tem inventado as formas mais díspares de provocar sons para acordar. Terrível ocupação, a destes inventores.
Têm sido estas malditas campainhas, têm sido os vindos do inferno piiiii-piiiii-piiiii dos dispositivos eléctricos, têm sido os requintadamente malévolos sons provindos de rádios ou televisores… Nalguns casos particulares, até clarins se usam.
A maior parte destes sistemas odiosos vão sendo preteridos pelas escolhas pessoais dos possuidores de telemóveis, onde cada um coloca o que melhor entende para a diabólica função de acordar: músicas, canhões, insultos, tudo serve pela originalidade e eficácia no acordar.
No meu caso, há já bastante tempo que uso o cantar de um galo. Se tenho que acordar, que seja com algo tão natural quanto possível.
As campainhas que aqui se vêem são o terceiro e último recurso que, a bem da tranquilidade da vizinhança, raramente se fazem ouvir. De permeio, entre os galos e a campainhada, ouvir-se-á - caso a noite seja difícil - uma estação de rádio com notícias.
No entanto é de estranhar que não saiba de ninguém que use um determinado som, mesmo que artificial, para sair da cama na hora pretendida. Um som que, e a dar fé em especialistas, é o que mais facilmente faz acordar com menor volume e em menos tempo: o choro de uma criança pequena. Só mesmo quem as não teve em casa poderá discordar de tal certeza.

Em tempos, e numa outra casa em que vivi, tive uma disputa sonora com uns vizinhos. Usavam e abusavam eles da potente aparelhagem que possuíam, a ponto de quase parecer que estava por baixo a minha almofada. Da minha e das dos restantes moradores, que lhes rogavam pragas mas pouco mais.
A coisa acabou por se resolver a bem, já que mudaram de residência. Mas não sem que antes me tivesse eu lembrado de lhes oferecer uma contra-partida equivalente: Usando das engenhocas que possuo, de goelas bem abertas e com intervalos bem irregulares, fazer com que se ouvisse o som gravado de um bebé a chorar. Isto enquanto eu iria, tranquilamente, passar o fim-de-semana algures em qualquer outro lado.
Não o fiz!
Entendi que os restantes moradores no prédio não mereciam tal tratamento.

E não, não digo como se faz. É demasiadamente mau para ser usado!

By me

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