domingo, 29 de setembro de 2013

Um mundo



São os últimos cartuchos de uma precária bem curta.
Venho ao Jardim da Estrela. Mesmo com uns ameaços de pinguitos, há sempre onde ficar, de café na mesa, a ler algo e a ver quem e o quê acontece. Que, aqui, é um mundo de que eu gosto para carregar baterias.
Antes de abancar, dou um giro. Faço-o sempre, que há sempre novidades, mesmo que a novidade seja não a haver. A que encontro hoje é um cenário montado para a rodagem de um filme, esta semana: uma grade, um portão, umas estátuas. Em fundo a tudo isto, toda a vegetação que por aqui existe. Bem escolhido, ainda que tivesse que andar de nariz aguçado para encontrar o aviso que confirmava as minhas suspeitas.
Na outra ponta do jardim, num banco, um fulano, seco de carnes mas abundante na idade. Que me saúda com um “Há anos que o não via.”
Interpretei mal a sua afirmação e disse-lhe que já aqui não vinha fotografar como dantes.
“Não! Não é isso!” disse. “Há muito que o não vejo no Fundão!”
“Fundão? Mas não sou de lá e há mais de 30 anos que lá não vou.”
“Não!? Então é das manifestações, na baixa. Já sei! Você é um operacional. Um perigoso operacional das FP. Não diga que não, que não me engana.”
Afastei-me sem muito mais troco. O Jardim da Estrela é um mundo, onde de tudo acontece. Mas aquela cabeça conseguiu ir bem mais longe.
Fosse eu como o autor do livro que tenho ara acabar, e teria feito uma fotografia do fulano, talvez que de longe por entre os arbustos. Ou talvez que bem de caras, sem enfeites. Mas não sou.
Fica a esplanada, onde fiquei, com os seus toldos bem largos que nos protegem dos aguaceiros que neles marcam ritmos selvagens.

É um mundo, todo o Jardim da Estrela.

By me 

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