São os últimos
cartuchos de uma precária bem curta.
Venho ao Jardim da
Estrela. Mesmo com uns ameaços de pinguitos, há sempre onde ficar, de café na
mesa, a ler algo e a ver quem e o quê acontece. Que, aqui, é um mundo de que eu
gosto para carregar baterias.
Antes de abancar,
dou um giro. Faço-o sempre, que há sempre novidades, mesmo que a novidade seja
não a haver. A que encontro hoje é um cenário montado para a rodagem de um
filme, esta semana: uma grade, um portão, umas estátuas. Em fundo a tudo isto,
toda a vegetação que por aqui existe. Bem escolhido, ainda que tivesse que
andar de nariz aguçado para encontrar o aviso que confirmava as minhas suspeitas.
Na outra ponta do
jardim, num banco, um fulano, seco de carnes mas abundante na idade. Que me saúda
com um “Há anos que o não via.”
Interpretei mal a
sua afirmação e disse-lhe que já aqui não vinha fotografar como dantes.
“Não! Não é isso!”
disse. “Há muito que o não vejo no Fundão!”
“Fundão? Mas não
sou de lá e há mais de 30 anos que lá não vou.”
“Não!? Então é das
manifestações, na baixa. Já sei! Você é um operacional. Um perigoso operacional
das FP. Não diga que não, que não me engana.”
Afastei-me sem
muito mais troco. O Jardim da Estrela é um mundo, onde de tudo acontece. Mas
aquela cabeça conseguiu ir bem mais longe.
Fosse eu como o
autor do livro que tenho ara acabar, e teria feito uma fotografia do fulano,
talvez que de longe por entre os arbustos. Ou talvez que bem de caras, sem enfeites.
Mas não sou.
Fica a esplanada,
onde fiquei, com os seus toldos bem largos que nos protegem dos aguaceiros que
neles marcam ritmos selvagens.
É um mundo, todo o
Jardim da Estrela.
By me
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