Num
grupo de fotografia on-line a que pertenço, fizemos uma brincadeira bem
interessante há uns três anos.
Sendo
que o grupo se destina a amantes e utilizadores de câmaras Pentax, um dos
membros disponibilizou uma objectiva 28mm, f:2,8 para a brincadeira. Uma
objectiva que, não tendo eu a certeza, bem pode ter uns trinta anos.
Pois
a bela da óptica andou pelo mundo, das Américas às Europas, das Ásias às Oceânias,
viajando via sistemas de correios, e permitindo que os seus destinatários a
usassem durante algum tempo. Partilhando depois, on-line, o que com ela haviam
feito.
Nada
tem de especial esta objectiva. Tendo a idade que tem, é completamente manual, obrigando
a exposição e focos pensados pelo utilizador e não pelo programador da fábrica.
Mais ainda, a sua qualidade óptica, ainda que de vidro como já hoje são raras, é
padrão: para a grande maioria dos utilizadores de película esta era a primeira “grande
angular” que se comprava, dado o seu preço e multi-funções em termos de ângulo
de visão.
Sei
que a grande maioria daqueles que “deram uma voltinha” com a objectiva tinham
uma igual ou muito semelhante. Como eu mesmo.
Qual
é, então, o interesse nesta brincadeira, perguntarão. Vários!
Por
um lado, ao termos acesso a ela, mesmo que com uma igual guardada, obrigou-nos
a usá-la. A inércia de usar uma objectiva zoom, que tudo cobre mas que nos leva
a ser preguiçosos, é terrível. Que, em preferindo a zoom, estamos a preterir a
perspectiva, a principal ferramenta de um fotógrafo.
E
se, em câmaras de película de 35mm ou em câmaras full size, a objectiva dita “normal”
em função do seu ângulo de visão é a 50mm, já numa Pentax será a 28mm,
aproximadamente. A objectiva “topa-a-tudo”, que se aproxima da visão humana
(este conceito é bem discutível, mas agora não será o momento), e que, em
muitas situações, é suficiente. Ou, para usar uma gracinha, uma objectiva fixa
como uma 28mm (ou 50mm) é uma zoom a duas velocidades: pé direito e pé
esquerdo.
Foi
um exercício fotográfico interessante, que muitas vezes recomendei (certo:
impus) aos meus alunos. E que eu mesmo faço, de quando em vez, só para não esquecer.
Mas
igualmente interessante foi o facto de esta objectiva vadia ter sido partilhada
por tanta gente pelo mundo fora, gente que apenas se conhece ou conhecia de um
grupo on-line, com uma confiança recíproca óbvia. Se bem me recordo, fomos mais
de vinte da “dar uns tirinhos”, sem que algo de errado tivesse acontecido à
bela da objectiva. Bem pelo contrário, que um encontrou um estojo de marca e da
época e passou a fazer parte do conjunto itinerante, acabando por fica nas mãos
do dono da objectiva.
São
estes detalhes, saber fazer e saber partilhar, que vão sendo cada vez mais
raros de encontrar, numa sociedade cada vez mais rápida no consumo do
conhecimento e de bens, em que ambos têm um prazo de vida ajustado à utilização
pontual que deles fazemos.
Nota
extra: a objectiva visível na fotografia não é a da história mas antes a minha,
que o “boneco” foi feito a correr esta madrugada. A da história está, muito
naturalmente, nas mãos do seu dono, algures ali para os lados da California.
By me
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