Uma
ocasião tive uma disputa com uma agente da PSP.
Fui
enviado em serviço para a Assembleia da República e ela não me queria deixar
entrar com o meu canivete suíço.
Foi
uma discussão que não diria feia mas antes renhida, em que eu argumentava que,
mais que uma lâmina, era um conjunto de ferramentas de primeiro socorro, que
uso no meu trabalho naquilo em posso evitar chamar os técnicos de manutenção. E
ela argumentava que não senhor, não podia eu entrar com aquilo.
A
conversa terminou (até porque os meus companheiros de trabalho estavam todos
atrás de mim, na fila) com o meu argumento final: “Então eu fico aí, sentado na
sua mesa a controlar quem entra e o que leva, e você vai fazer o meu trabalho,
que eu não subo sem ele!”
Acabei
por entrar com o que levava no cinto.
(Note-se
que esta conversa aconteceu em ’87. Não sei o que aconteceria hoje)
Um
canivete suíço é como qualquer outro instrumento: tanto pode ser usado para
construir um cadafalso como um berço, para ajustar um ponto de mira ou afinar
um relógio. Ou descascar uma peça de fruta.
Não
é ele, de per si, que é mau ou perigoso, mas tão só o uso que lhe damos.
Nós
mesmos somos um canivete suíço. Tanto podemos dar um murro nas trombas de alguém
como ajudar uma velhinha a atravessar a rua, tanto podemos dizer uma palavra
feia a quem nos bloqueia a passagem como esboçar um sorriso a um desconhecido
que foi gentil. Ou podemos ser nós mesmos a bloquear alguém ou a sermos gentis.
Assim,
fica aquela pergunta perturbadora: o que fizeste de bom hoje com o canivete que
és?
By me
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