Talvez
por ser no fim de uma terça-feira muito quente. Talvez porque já é Setembro.
Talvez por sermos tugas. Talvez…
Os
suburbanos enchem no fim do dia. No início também, mas como se saiu da cama há
pouco, não parecem tão cheios.
Por
sorte minha, tanto num caso como no outro embarco no comboio antes de atingir o
ponto de já não haver lugares sentados. Costumo fazer o trajecto sentadinho,
umas vezes a ler, outras a escrever, outras ainda apenas a pensar.
Hoje
regressava no terceiro modo quando, numa das estações em que lugares só de pé,
vejo entrar uma senhora jovem, com uma criança de uns três anos ao colo. Vinha
a petiza cheia de sono (e de calor, suponho) de chucha na boca.
A
mãe, pensemos que o era, bem que olhava para cima, para um lado e para o outro,
mas nada. Os lugares reservados, bem identificados com o que se vê na imagem,
ficavam lá longe, havendo que percorrer o corredor já apinhado antes de lá
chegar.
Chateei-me,
chamei-a e dei-lhe o meu lugar, junto à janela. Não foi manobra fácil, que as
dondocas na coxia não estavam lá muito com vontade de me deixar sair e deixá-la
sentar. Mas não tiveram outro remédio.
Na
passagem, agradeceu-me ela e, quando me encostei no patamar entre portas,
agradeceu-me um homem. Que percebi depois ser o companheiro dela, talvez que o
pai, e que carregava os sacos dos três.
Disse-lhe
eu, encolhendo os ombros e em resposta, que não é necessário haver dísticos.
Basta ter olhos.
“Nem
todos os têm”, disse-me. “Nem todos.”
E
ficámos assim, cada um segurando-se como e onde podia, mesmo que os comboios
desta linha não sejam dos piores.
Três
estações depois, sinto puxarem-me pelo colete. Detrás. Achei estranho, claro, e
rodei a tentar saber o que se passava.
No
banco, em cujas costas me encostava, estava um velhote, cabelo e bigode
brancos, barba de três dias e roupa em fim de vida. E disse-me, levantando-se:
“Saio
na próxima. Sente-se você!” E cruzou-se comigo em direcção à porta, enquanto a
composição abrandava a marcha.
Claro
que me sentei, mesmo que sob o olhar nada sorridentes dos outros e outras que
estavam de pé.
Fim
de estória, mas não do meu sorriso.
By me
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