Ao longo dos anos
tenho estado envolvido em diversas actividades de formação e educação.
Entenda-se que o uso dos dois termos não é casual, já que não são sinónimos,
ainda que o possam parecer.
Em todas elas os
conteúdos estavam mais ou menos definidos à priori, nuns casos com mais rigor,
noutros nem tanto. Nuns casos cumprindo programas definidos por outras
entidades, noutros de minha exclusiva responsabilidade.
Do ponto de vista
formal, esses conteúdos dividiam-se em duas características ou grandes áreas: a
técnica e a estética. Dificilmente alguém poderá argumentar que ambas não são
vitais no audiovisual, seja qual for o suporte e grau de aprofundamento.
Mas sempre fiz
questão de, adaptadas aos grupo etários e culturais, de inserir duas outras
áreas igualmente vitais: a semiótica e a ética. Mesmo que não constassem nos
programas previstos por terceiros.
Destas quatro
áreas, a mais fácil de ensinar (e de aprender) é a técnica. Para cada acção há
uma reacção, o equipamento tem regras, leis, normas e limites próprios e o seu
uso é de constatação imediato: ou resulta ou não resulta, ponto final. Claro
que há sempre possibilidade de ir mais fundo e longe, mas mesmo isso tem
limites.
O aspecto seguinte
em termos de facilidade de ensino e aprendizagem é a estética. Mesmo que seja
objecto de muita subjectividade, que dependa de gostos e hábitos, numa
sociedade cada vez mais dependente da imagem já nos fazemos gente e aprendemos
a ver e ouvir ainda antes de aprendermos a falar ou andar. Isto já nos dá,
queiramo-lo ou não, uma cultura audiovisual de base, no tocante a estética que,
queiramo-lo ou não, facilita a sua aprendizagem. E, mesmo que assim não fosse,
a sociedade ocidental encarregou-se de a sistematizar, normalizar, enquadrar, a
ponto de, para ela, ter criado regras. E, mesmo que um aluno ou formando não
seja brilhante em termos estéticos, se as seguir não fará má figura.
Em seguida vem a
semiótica. Mais complicada de sistematizar, depende em boa parte da idade e
grau cultural do estudante a capacidade de a entender. Nos jovens torna-se mais
complica a sua aplicação, já que a contestação que lhes é inerente não facilita
o uso de códigos generalizados de uma geração anterior. Mas, e como em tantos
outros aspectos, depende da forma como lhes é apresentada e de como lhes é
demonstrada a importância do seu domínio. Vital, do meu ponto de vista.
Resta a mais
difícil: a ética. Para além de variar entre culturas, sub-culturas ou mesmo
“tribos” como hoje se usa dizer, a sua aceitação varia, e muito, com a
personalidade e formação individual. Não importa o grupo etário: é sempre
difícil fazer passar a mensagem por forma a ser intuída, no lugar de imposta.
Que, e como bem sabemos, tudo quanto é imposto é alvo, assim que possível, de
ser praticado o seu contrário. Não importa qual o campo de actividade. E com
toda a subjectividade que está subjacente ao audiovisual, ainda mais.
Indo mais longe,
entenda-se o seguinte: a principal ferramenta de um professor ou formador é a
sua credibilidade. Se o que ele diz e afirma for aceite, será aprendido. Se ele
não for credível, os níveis de sucessos dos alunos ou formandos serão,
garantidamente, muito mais baixos.
E se isto é
indubitavelmente válido nos campos da técnica, da estética e da semiótica, é
uma verdade absoluta e inquestionável no campo da ética. Afirmar ou defender
algo ou um comportamento e praticar o seu oposto é perder tempo do ponto de
vista de pedagogia. Válido em todos os campos e idades.
Uma das principais
dificuldades, do ponto de vista ético, de quem está ligado ao audiovisual, é o
tratar por igual todos os que surgem em frente da objectiva. Não importa o quão
não simpatizamos, ou mesmo odiamos, essa ou essas pessoas. Enquanto
profissionais da imagem, são todos iguais e há um nível mínimo que não deve ser
diminuído. Claro que podemos ter atitudes discriminatórias pela positiva. Mas
pela negativa não! É bem mais honesto não aceitar o encargo que,
propositadamente, fazermos menos bem só porque não podemos com aquela pessoa ou
grupo.
E isto sei-o em
profundidade e sem dúvidas pelos anos que levo de ofício e pela variedade de
gente que me passou pela objectiva. E garanto que, de todas as vezes que me
apeteceu mandar às urtigas as éticas e as civilidades e reagir de acordo com
emoções primárias, me consegui conter, mantendo-me nos níveis mínimos
aceitáveis: neutro.
Tal como garanto
que daquela vez em que agredi um primeiro-ministro de Portugal, estando em
serviço, foi um mero acidente, sem nada de premeditado ou segundas intenções.
Mas também garanto
que muitas foram as vezes que meti as mãos nos bolsos e virei costas para não
perder as estribeiras. Exactamente como hoje, caramba!
By me
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