O
texto e a fotografia têm dois anos de escritos e publicados. Mas como veio a
talhe de foice sempre aqui fica, e com o mesmo título.
Este
é o segundo compasso de desenho que tenho na vida. O primeiro obtive-o algures
pouco depois de ter saído da escola primária.
Vinha
ele numa caixa de madeira, pintada de preto por fora e forrada a feltro negro
por dentro, com os encaixes para as diversas peças bem entalhados e à medida.
Recordo-me, também, que o fecho da caixa se fazia através de um veio
longitudinal, cuja carrapeta se puxava pela direita da caixa e que bloqueava um
pequeno aro metálico.
Esse
compasso acompanhou-me durante toda a minha vida liceal, incluindo a disciplina
de geometria descritiva, em que obtive a estrondosa nota de 19 valores no exame
final. Nunca repeti a proeza!
Quando
mo entregaram, talvez que com a mesma solenidade com que me deram o meu
primeiro relógio de pulso, no exame da 4ª classe, disseram-me que era uma peça
cara, de muito rigor e que teria que o estimar bem. O que fiz, apesar de muito
eu gostar de desmontar coisas e de lhes dar outros usos que nunca o fabricante
haveria imaginado. E usei-o nas aulas assim como quando construía carros,
camiões e carros blindados em cartolina para as batalhas de mesa, entretém que
me acompanhou por bons anos.
Em
acabado o liceu, levou outros rumos que já não recordo e perdi-lhe o rasto. Mas
não o esqueço, nem ao nome da marca, gravada no aço da bifurcação do compasso:
Kern.
Este,
comprei-o hoje, pela graça que lhe achei, num supermercado. O preço? Quase quatro
euros. Uma ridícula ninharia, comparado com o que deve ter custado o que tive,
se fizermos o ajuste cambial, nível salarial de minha família e de custo de
vida.
E
duvido, muito sinceramente, que este durasse o mesmo nas mãos de um estudante
nos dias de hoje. Pelo seu muito baixo custo e com a semelhança que a própria
embalagem tem com a de um brinquedo. No meio de tudo o que hoje se transporta
na sacola estudantil, e emparelhado com tecnologia electrónica de consumo,
rapidamente a caixa se estragaria, as peças se perderiam e deixaria de ter
utilidade. Para já não falar que a sua acessibilidade nos expositores das
grandes superfícies lhe retiram por completo a solenidade e respeito por uma
ferramenta de precisão.
Como
nota final, sempre poderei dizer que só muito mais tarde me passou pelas mãos
um apara-minas destes. Aquilo que sempre usei foi uma lixa para minas, por mim
construída numa aula de trabalhos manuais, com madeira e lixa, que deixava o
bico em bisel e não cónico. De grande rigor no traço e que obrigava a uma boa
dose de disciplina, para que a grafite assim raspada se não espalhasse onde não
devia.
Com
o nível de rigor que hoje se pede aos estudantes, com compassos “made in china”
e mais baratos que um maço de cigarros… O futuro nos dirá que colheita teremos
do que agora vamos semeando.
By me
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