A história já tem
uns anitos.
Fui eu convidado a
fazer parte de um júri para seleccionar técnicos para uma dada função. Convite
que aceitei.
Para além de
provas teóricas, havia provas práticas, que se prolongaram por alguns dias,
pois eram individuais.
E, algures durante
o processo, fui abordado por um conhecido.
Vem ele com uma
conversa que havia o Fulano Tal que estava a concorrer e que tinha tido azar
nos concursos anteriores. E que era boa pessoa mas com muito azar e se eu podia
“dar um jeito”.
A meio da conversa
interrompi-o e disse-lhe, com a delicadeza que me foi possível, que aquele não
era assunto para tratar comigo, que não seria eu, certamente, a pessoa com quem
ele deveria debater a questão. E afastámo-nos.
Não sei se chegou
a dizer-me o nome da pessoa ou se, muito liminarmente, a minha memória o apagou
de imediato. Certo é que no decurso das provas nunca soube de quem se tratava
e, ainda hoje, não sei se terá ou não sido aprovado.
Mas esta conversa
deixou-me com um complicado misto de sentimentos.
Por um lado o
facto de, por uma vez, estar numa posição que alguém considerasse de “vantagem”
para “meter uma cunha”. Foi uma estreia e, admito, alimentou-me o ego.
Por outro lado,
fiquei bem mais que furioso. A pessoa que me abordou fora meu chefe durante
algum tempo e tinha a obrigação de saber que nunca eu aceitaria o encargo de favorecer
alguém a pedido. Não só me seria impossível em consciência como, se por mero
acaso o fizesse, passaria a nunca mais ser capaz de olhar para um espelho.
No entanto sei que
é assim, ou parecido, que boa parte deste mundo se gere: Fulano pede a Cicrano
que, por sua vez e ao ficar em dívida, irá interceder por este junto a Beltrano
que, por seu lado…
Sei que as “pedrinhas
na engrenagem” têm por efeito uma de duas opções: ou partem um ou dois dentes
do mecanismo ou são esmagadas por ele.
Por enquanto ainda
cá estou, bem como mais uns quantos, tão autónomos e rijos poliedros quanto eu.
E espero que por cada um de nós que seja esmagado surjam mais dez pedrinhas, até
que os dentes se partam todos e as molas saltem.
By me
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