Estou em crer que
uma das principais características de um photógrapho é ser conservador.
Claro que há a
questão do domínio da técnica, mas nada que bons livros, mestres e prática não
resolvam. Também há a questão da estética que, em regra, ou se domina ou não.
Mas também aqui a prática e o recurso a fórmulas conhecidas e de eficácia
comprovada fazem com que o resultado possa ser satisfatório ou mesmo bom. Agora
a questão do conservadorismo é mesmo fruto da personalidade e esta não se molda
ou aprende em bancos de escola ou bibliotecas.
E, por muito que
esta vertente possa chocar, é desde logo defensável pelo acto de fotografar. É
um querer conservar algo, é o materializar um pensamento aliado à visão que,
para ser transmissível, tem que ser perpetuado, conservado. E se este
conservadorismo não se baseia em conservar o que foi, será, pelo menos,
conservar o que é. Conservadorismo em qualquer dos casos.
Mas este aspecto
vai mais longe e é mais profundo. Grave mesmo, se se lhe quiser atribuir um
grau de qualidade.
É que um
photógrapho, quando não constrói ou manipula os assuntos que fotografa tem o
seu olhar (ou atenção) atraído pelas diferenças. A um universo que o cerca, vai
dando pouca, se alguma, importância ao normal, ao regular, ao habitual,
fixando-se no que é diferente, incomum, estranho. Seja isso bonito ou feio,
motivo de elogio ou de censura, digno de ser guardado como coisa boa de
recordar ou repetir ou um exemplo a não repetir.
Raras, se algumas,
terão sido as imagens produzidas mostrando apenas um céu azul sem mácula ou
uniformemente coberto de nuvens, brancas ou cor de chumbo. Agora os contrastes
entre as brancas e as pesadas, ou o celeste e o capacete, a ameaça da borrasca
pelo contraste… bem, existirão, talvez, uns milhões de fotografias.
O que faz parar um
photógrapho é a diferença, o que quebra a conservação do equilíbrio.
Em matando eu o
tempo à espera do meu comboio, vagueando pelo cais os pés e os olhos, ficaram
estes presos pelas diferenças nas lâmpadas, apagadas porque de dia. E constato
que algumas têm uma protecção exterior em vidro e outras não, seja lá pelo que
for.
Não creio que
alguma vez tivesse parado para pensar nelas, apagadas, não fosse esta quebra na
uniformidade, este alterar da condição de regularidade – a protecção das lâmpadas.
Poderei
(poderemos) dominar a técnica, ou não; Poderei (poderemos) ser ou não capazes
de fazer belas imagens; Mas se não formos conservadores a ponto de as
diferenças nos fazer olhar o que nos cerca, nem sequer faremos photographia.
By me
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