quinta-feira, 17 de novembro de 2011

12:38




Estou em crer que uma das principais características de um photógrapho é ser conservador.
Claro que há a questão do domínio da técnica, mas nada que bons livros, mestres e prática não resolvam. Também há a questão da estética que, em regra, ou se domina ou não. Mas também aqui a prática e o recurso a fórmulas conhecidas e de eficácia comprovada fazem com que o resultado possa ser satisfatório ou mesmo bom. Agora a questão do conservadorismo é mesmo fruto da personalidade e esta não se molda ou aprende em bancos de escola ou bibliotecas.
E, por muito que esta vertente possa chocar, é desde logo defensável pelo acto de fotografar. É um querer conservar algo, é o materializar um pensamento aliado à visão que, para ser transmissível, tem que ser perpetuado, conservado. E se este conservadorismo não se baseia em conservar o que foi, será, pelo menos, conservar o que é. Conservadorismo em qualquer dos casos.
Mas este aspecto vai mais longe e é mais profundo. Grave mesmo, se se lhe quiser atribuir um grau de qualidade.
É que um photógrapho, quando não constrói ou manipula os assuntos que fotografa tem o seu olhar (ou atenção) atraído pelas diferenças. A um universo que o cerca, vai dando pouca, se alguma, importância ao normal, ao regular, ao habitual, fixando-se no que é diferente, incomum, estranho. Seja isso bonito ou feio, motivo de elogio ou de censura, digno de ser guardado como coisa boa de recordar ou repetir ou um exemplo a não repetir.
Raras, se algumas, terão sido as imagens produzidas mostrando apenas um céu azul sem mácula ou uniformemente coberto de nuvens, brancas ou cor de chumbo. Agora os contrastes entre as brancas e as pesadas, ou o celeste e o capacete, a ameaça da borrasca pelo contraste… bem, existirão, talvez, uns milhões de fotografias.
O que faz parar um photógrapho é a diferença, o que quebra a conservação do equilíbrio.

Em matando eu o tempo à espera do meu comboio, vagueando pelo cais os pés e os olhos, ficaram estes presos pelas diferenças nas lâmpadas, apagadas porque de dia. E constato que algumas têm uma protecção exterior em vidro e outras não, seja lá pelo que for.
Não creio que alguma vez tivesse parado para pensar nelas, apagadas, não fosse esta quebra na uniformidade, este alterar da condição de regularidade – a protecção das lâmpadas.
Poderei (poderemos) dominar a técnica, ou não; Poderei (poderemos) ser ou não capazes de fazer belas imagens; Mas se não formos conservadores a ponto de as diferenças nos fazer olhar o que nos cerca, nem sequer faremos photographia.

By me

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