sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Incómodo filosófico




Este cartaz está bastante bem concebido:
Simples, sem enfeites nem chavões inúteis, duas frases curtas e um conselho de tranquilidade, não tendo implícito a compra de coisa alguma… Bem concebido.
Apesar disso, é um cartaz que me incomoda de sobremaneira. E nada tem a ver com o factor comunicação, que me toca de perto.
Por um lado o facto de os advogados terem que vir a terreiro publicitar os seus serviços e tentar aumentar os seus clientes. Significa que mesmo neste ofício a crise se instalou.
E, exactamente pelo ponto anterior, é denunciador da forma como a gestão do ensino e preparação para uma carreira profissional tem acontecido: formam-se profissionais liberais em campos onde já super abundam, atirando para o desemprego ou para rendimentos limites jovens a quem prometeram ou sugeriram uma vida sorridente. Nesta actividade bem como noutras, que mais não são que serviços, quando aquilo que o país bem necessita é de gente capaz de produzir bens que contribuam para o bem-estar e riqueza de todos.
Por outro lado, e indo bem mais fundo na questão, incomoda-me a existência de advogados. Que a sua existência, bem como a prática da advocacia, significa que há gente que precisa de ser representada em situações de conflito legal. Criminal ou civil. E o aumento desta necessidade significa o aumento de conflitos. E, com eles, o recurso a árbitros (juízes) e representantes capazes de interpretar a lei (advogados). Significa que os cidadãos resolvem os seus desentendimentos com base no conflito e confronto no lugar de um entendimento e equilíbrio de razões. Que, em havendo algum tipo de desacordo, pequeno ou grande, em vez de partirem para o diálogo e consenso, procuram impor a sua vontade e ponto de vista com recurso a leis e punições.
Por outras palavras, o aumento de advogados e da prática da advocacia é directamente proporcional à conflituosidade. E há gente que lucra com isso.

Não posso concordar com uma sociedade que vive em conflito. Nem posso apoiar quem disso queira viver.
Dir-me-ão que esse é o rumo do mundo em que vivemos. Mas isso não me obriga a gostar nem a, estaticamente, contribuir para essa evolução. Enquanto puder, opor-me-ei ao que me incomoda.
E este cartaz incomoda-me!

Texto e imagem: by me

1 comentário:

Anónimo disse...

Há conflitos. Não há como negar. Eles existem. Uma sociedade sem coflitos é uma ditadura, onde um manda e o rsto obedece...não é saudável. Porém, advogados não vivem apenas de conflitos...ele defende a justa aplicação da lei a fim de se evitar injustiças...

Além disso, advogados atuam para proteger o cidadão das atrocidades do poder público...advogados são necessários para a democracia...o mercantilismo da advocacia é que deve ser BANIDO!