Havia em Lisboa uns Snack-Bar ou restaurantes cujo
arranjo interior gosto bastante: com o balcão em zig-zag, formando corredores
com bancos de pé alto e fixos. Creio que já só resta um.
Mas foi num dos que fechou que se passou este
episódio.
Entrámos nele, eu e um compincha, para tomar
qualquer coisa enquanto falávamos de coisas sérias. Fotografia, muito
provavelmente.
Acontece que a hora foi mal escolhida: a mudança de
turno.
Implicava isto que os empregados do turno que
terminava entendiam que seríamos atendidos pelos que entravam e vice-versa. E,
não havendo mais clientes sentados ao balcão, estávamos os dois com aquele
complexo de invisibilidade bem desagradável.
Bem que usávamos a fórmula clássica “Oh faxavor!”
ou acenávamos para quem passava lá no fundo do corredor interior, mas nada.
Nada de se aperceberem que davam por nós.
Recorri então a métodos pouco convencionais:
Abri o guarda-chuva e fiquei sob ele, sentado e
todo encolhido. Resultou.
Um dos chefes de turno (não sei se o de saída se o
que entrava) veio ter connosco, perguntando sobre o que se passava.
Com o ar mais inocente possível, respondi:
“Bem: estão a demorar tanto a atender-nos que tenho
medo que o prédio desabe de velho. Estou a proteger-me.”
Fomos atendidos de imediato, num misto de cara-feia
e sorriso dissimulado. E nunca mais a situação se repetiu, apesar das muitas
horas que passei sentado naqueles bancos, antes que fechasse de vez.
By me
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