sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A bátega



Enquanto esperávamos, portas a dentro do café, que a bátega insuspeita passasse, fomos trocando umas piadas avulsas.
Éramos cinco, dois casais e eu, e não nos conhecíamos.
No televisor, ao fundo, o noticiário ia desfiando o rosário do costume em silêncio e, a certa altura, surgiram imagens do prisioneiro da moda.
Claro que a conversa, quisesse-o eu ou não, enviesou para o tema.
Abordou-se a justiça, as maldades que ela faz e os privilégios de alguns, e retomei um assunto de que gosto: utilização alternativa dos candeeiros da rua.
Que tenho alguns favoritos, apesar de gostar muito do arco da Rua Augusta e que, se necessário, ensino o fazer do nó.
Acharam, naturalmente, que o tipo das barbas estava a exagerar, que isso das execuções públicas é bárbaro, pouco civilizado e nada consentâneo com os tempos que correm.
Ainda da porta, apontei-lhes aqueles dois que estavam a catar do interior dos contentores do lixo, mesmo debaixo da chuva que caía e que, como nós, não tinham guarda-chuva. E perguntei-lhes se aquilo era civilização e se era o que desejavam para a criança que ainda estava na barriga de uma das senhoras presentes.
Calaram-se!

E eu enfiei a cabeça entre os ombros, apertei o casaco e, com o saco do pão na mão, enfrentei a chuva.

By me 

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