Foi há uns quinze
dias, talvez três semanas.
Tinha saído de um
comboio, preparando-me para esperar pelo seguinte que me deixaria na estação de
destino. Naquele trajecto mais que habitual de casa para o trabalho.
Apesar de ter
ouvido o silvo de fecho de portas, não iniciou a marcha de imediato. Estranhei
e olhei.
Vi uma porta
semi-fechada, com uma jovem fazendo o possível por a manter aberta, apesar da
pressão do automatismo. E, por entre as portas, as pontas de duas muletas.
Percebi logo o que
se passava: Um velhote que seguia a bordo, e em quem tinha reparado, tentara
sair mas não fora suficientemente rápido. E corria o risco de, senão ficasse
entalado, só desembarcar na estação seguinte.
Não pensei mais.
Enquanto dava as
quatro ou cinco passadas rápidas que me separavam das portas, fui acenando para
o maquinista, que talvez me visse pelo retrovisor. E fui ajudar a abrir as
benditas portas, para que ele saísse. Enquanto me esforçava, ia olhando para
perceber se o retrovisor fora recolhido ou não, sinal de que ele havia visto os
meus gestos.
E dou com a cabeça
do revisor, numa porta a meia distância, a olhar para nós. Deve ter accionado o
sinal de “abrir portas”, que ouvimos o silvo e elas abriram. O velhote
desembarcou, com bastante dificuldade, as portas fecharam de novo e o comboio
seguiu o seu caminho.
Confesso que este
episódio quase me não ficou na memória. Fora apenas um, de entre tantos vivido
ao longo de tantos anos de utilização de caminhos-de-ferro suburbanos. Uns mais
divertidos, outros nem tanto.
Só ficou gravado
porque o revisor dessa composição, um sujeito com cara de poucos amigos, um
pouco brusco mesmo no trato com os passageiros, passou a cumprimentar-me com a
saudação e um aperto demão de cada vez que nos cruzamos, quer ele esteja em
serviço quer não. Indo ao ponto de ter deixado de me pedir para confirmar a
validade do bilhete. O que infringe as suas normas de trabalho.
Moral da estória:
nunca avaliar alguém pelo semblante. Poderá haver uma enorme surpresa.
By me
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