Tiveram elas azar.
Ou talvez não.
Tive eu sorte.
Isso é garantido.
O supermercado
estava vazio. Quase escandalosamente vazio. Sem apertos nos corredores e
podendo eu escolher a caixa que queria com a certeza que ser atendido rapidamente.
Para reforçar a
coisa, tinha conseguido entra na loja antes do aguaceiro e previa-se que,
aquando da saída, já tivesse terminado.
O cúmulo é que
tudo o que queria trazer havia nos escaparates, sem rupturas de stock natalícios
e com prazos de validade convenientes.
Se quando entrei elas
estavam lá, quando saí também. E uma delas abordou-me. Coitada! Queria
convencer-me a aderir a um cartão de crédito. Logo eu!
Como o movimento
era realmente fraco, acabámos por ficar de conversa. Ela e mais duas colegas,
que se juntaram, curiosas sobre o que o “pai natal” estaria a dizer.
Quando lhes disse
que parte da culpa do actual estado do país se prendia com o crédito mal pedido
e mal usado, cartões incluídos, demonstrei com a veemência habitual a diferença
que pode ter o uso de algo:
Abri o belo do
canivete, com a sua lâmina grande. E logo se afastaram uns bons dois passos, de
susto.
E continuei,
dizendo que com aquilo tanto podia construir um berço para um bebé como uma
forca mortal. O perigo não está na ferramenta mas no uso que lhes damos.
Conversa vai,
conversa vem, e acabei por lhes mostrar a utilidade de alguns objectos pouco
comuns que trago nos bolsos. Entre eles um borrifador de água, uma caneta de
aparo, uma câmara fotográfica e uma corrente de autoclismo. E fiquei a saber
aquilo de que suspeitava: nenhuma delas leu o Tom Sawyer, apenas viu os
desenhos animados. E nenhuma delas sabe a alusão aos díspares e muitos objectos
estranhos que ele transportava no bolso. Os filmes de animação sempre saltaram
esse aspecto.
Foi sorte a minha,
terem-me abordado num dia de boa disposição para comprar uma coisa que eu não
queria nem quero.
Se não tivesse
estado na conversa teria regressado a casa mais cedo uns bons vinte minutos.
Antes de este sapato ter sido aqui despejado, que não estava quando saí.
Faz tempo que não
vejo um na rua.
By me
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