domingo, 21 de dezembro de 2014

Jejum



Quando tomava o banho matinal, ainda antes do sol nascer, lembrei-me de algo.
Tem graça, isto da higiene. É nela (interior ou exterior) que as ideias mais me flúem, saltando de uma para outra como abelha de flor em flor.
Em qualquer dos casos, lembrei-me da data (solstício de Inverno) e lembrei-me que, tal como em todas as tradições humanas, há sempre um período de jejum. É algo de higiénico também, purgando o corpo daquilo que ingerimos.
Ideia atrás de ideia, como gota atrás de gota, e lembrei-me que talvez fosse um dia bom para jejuar da fotografia.
Afinal, fotografar é, para mim, o alimentar da alma. E se faz sentido o purgar o corpo, também o faz à alma.
A ideia foi-se, tal como a água do corpo, sobrevindo apenas a da data, que tratei de exprimir por escrito e recorrendo a uma fotografia d’arquivo. Entre outros motivos porque o tempo ia ficando escasso para sair de casa e seguir p’ro trabalho.
Já em trânsito e na estação de comboios, constato que com a pressa havia deixado a câmara de bolso, que sempre me acompanha, em cima da secretária. Ao colocar tudo o resto nas algibeiras, qual Tom Sawyer da actualidade, ela ficou esquecida. Talvez que o meu subconsciente não tivesse de todo esquecido o que me lembrara no banho.
Confesso que me sinto um pouco desnudo, sem sentir o seu peso na algibeira do colete. Mas, no fundo, far-me-á bem.
Que o que importa não são as fotografias que fazemos mas antes o espírito com que o fazemos.
E, na prática, todas as fotografias feitas, das mais “amadoras” e inocentes, às mais artísticas e profundas, passando pela actividade profissional (qualquer uma do ramo), mais não são que um registar o que está atrás da câmara, disfarçado pelo que está à frente da objectiva.

Um dia de jejum e de meditação sobre o que faço e o que sou fazer-me-á bem!

By me

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