Quando tomava o
banho matinal, ainda antes do sol nascer, lembrei-me de algo.
Tem graça, isto da
higiene. É nela (interior ou exterior) que as ideias mais me flúem, saltando de
uma para outra como abelha de flor em flor.
Em qualquer dos
casos, lembrei-me da data (solstício de Inverno) e lembrei-me que, tal como em
todas as tradições humanas, há sempre um período de jejum. É algo de higiénico
também, purgando o corpo daquilo que ingerimos.
Ideia atrás de
ideia, como gota atrás de gota, e lembrei-me que talvez fosse um dia bom para
jejuar da fotografia.
Afinal, fotografar
é, para mim, o alimentar da alma. E se faz sentido o purgar o corpo, também o
faz à alma.
A ideia foi-se,
tal como a água do corpo, sobrevindo apenas a da data, que tratei de exprimir
por escrito e recorrendo a uma fotografia d’arquivo. Entre outros motivos
porque o tempo ia ficando escasso para sair de casa e seguir p’ro trabalho.
Já em trânsito e
na estação de comboios, constato que com a pressa havia deixado a câmara de
bolso, que sempre me acompanha, em cima da secretária. Ao colocar tudo o resto
nas algibeiras, qual Tom Sawyer da actualidade, ela ficou esquecida. Talvez que
o meu subconsciente não tivesse de todo esquecido o que me lembrara no banho.
Confesso que me
sinto um pouco desnudo, sem sentir o seu peso na algibeira do colete. Mas, no
fundo, far-me-á bem.
Que o que importa
não são as fotografias que fazemos mas antes o espírito com que o fazemos.
E, na prática,
todas as fotografias feitas, das mais “amadoras” e inocentes, às mais
artísticas e profundas, passando pela actividade profissional (qualquer uma do
ramo), mais não são que um registar o que está atrás da câmara, disfarçado pelo
que está à frente da objectiva.
Um dia de jejum e
de meditação sobre o que faço e o que sou fazer-me-á bem!
By me
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