sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Medos e coerências





O título é engraçado:
“Um em cada três portugueses tem fobia de andar de avião”.
Vem num jornal de hoje e resulta do estudo de uma psicóloga sobre o tema.
Não será o meu caso, o que me coloca nas maiorias. No entanto, recuso-me em andar de avião. O que me coloca nas minorias, mais ou menos. Vejamos.

Andar de avião é divertido. Pouco há que se iguale à força e potência que se sente aquando da descolagem ou aterragem. Por outro lado, a aviação é uma vitória sobre a natureza, que não nos deu asas ou penas mas, ainda assim, nos permite andar lá por cima como os pássaros. A somar a tudo isto, temos o facto estatístico de ser seguro: comparando o número de voos com as viagens rodo ou ferroviárias, há muito menos acidentes com aviões que com qualquer outro meio de transporte. Incluindo as bicicletas ou os patins.
Eu mesmo, diga-se, já estive nos ares de diversas formas ao longo dos anos: avião a jacto normal, monomotor e bimotor a hélice, balão de ar quente, planador… falta-me, creio, um caça, um hidroavião e um helicóptero para ter a colecção completa, se excluirmos os ultra ligeiros.

De facto, andar de avião é mesmo divertido! Mas eu recuso o andar neste meio de transporte, nas suas versões comerciais do costume!
O motivo é relativamente simples: não quero ser insultado!
Em qualquer aeroporto é-se revistado antes de embarcar. Malas e corpo são objecto de uma inspecção manual ou automática, na busca de potenciais objectos perigosos para o avião, os passageiros e quem está cá em baixo.
Ora acontece que isto é partir do princípio que todos – eu incluído – somos potenciais criminosos ou terroristas, capazes de fazer explodir uma bomba ou quejando. É partir do princípio que todos somos suspeitos e que devemos provar, mesmo que passivamente, a nossa inocência.
Discordo! Discordo na íntegra!
As leis e as regras sociais em vigor, tal como as que regem a minha própria consciência, definem com clareza que todo o cidadão é inocente até que se prove o contrário. O ónus da prova cabe a quem acusa.
E não aceito que, pelo simples facto de viajar no avião, suspeitem de mim e procurem provar acusações que nem sequer ainda as formularam. Um pouco na linha do cristianismo, onde pelo simples facto de existir sou pecador.

Não aceito! Não tenho esse comportamento de suspeição permanente para com os outros nem aceito que o tenham para comigo. Não deixo que a sociedade cheia de medos e vigilâncias ponha em causa a minha inocência ou boa-fé.
Ora, sendo certo que não poderei embarcar num avião sem passar por essa indignidade – que não imponho a ninguém ao entrarem em minha casa – pura e simplesmente não viajo de avião.
Escolho outros meios de transporte que não me insultem nem partam do princípio que sou culpado mesmo antes de me conhecerem sequer.
Se e quando tiver que fazer uma longa viagem de muitas horas, optarei por outros meios de transporte e gerirei o tempo em função disso. Mesmo transatlânticas.
Se não for possível… bem, há sempre tanto no mundo onde não fui e que não conheço, que outros destinos se propiciarão.
Mas a minha dignidade e coerência não se vende por trocos ou milhares de quilómetros. 

By me

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