O título é
engraçado:
“Um em cada três
portugueses tem fobia de andar de avião”.
Vem num jornal de
hoje e resulta do estudo de uma psicóloga sobre o tema.
Não será o meu
caso, o que me coloca nas maiorias. No entanto, recuso-me em andar de avião. O
que me coloca nas minorias, mais ou menos. Vejamos.
Andar de avião é
divertido. Pouco há que se iguale à força e potência que se sente aquando da
descolagem ou aterragem. Por outro lado, a aviação é uma vitória sobre a
natureza, que não nos deu asas ou penas mas, ainda assim, nos permite andar lá
por cima como os pássaros. A somar a tudo isto, temos o facto estatístico de
ser seguro: comparando o número de voos com as viagens rodo ou ferroviárias, há
muito menos acidentes com aviões que com qualquer outro meio de transporte. Incluindo
as bicicletas ou os patins.
Eu mesmo, diga-se,
já estive nos ares de diversas formas ao longo dos anos: avião a jacto normal,
monomotor e bimotor a hélice, balão de ar quente, planador… falta-me, creio, um
caça, um hidroavião e um helicóptero para ter a colecção completa, se
excluirmos os ultra ligeiros.
De facto, andar de
avião é mesmo divertido! Mas eu recuso o andar neste meio de transporte, nas
suas versões comerciais do costume!
O motivo é
relativamente simples: não quero ser insultado!
Em qualquer
aeroporto é-se revistado antes de embarcar. Malas e corpo são objecto de uma
inspecção manual ou automática, na busca de potenciais objectos perigosos para
o avião, os passageiros e quem está cá em baixo.
Ora acontece que
isto é partir do princípio que todos – eu incluído – somos potenciais criminosos
ou terroristas, capazes de fazer explodir uma bomba ou quejando. É partir do
princípio que todos somos suspeitos e que devemos provar, mesmo que
passivamente, a nossa inocência.
Discordo! Discordo
na íntegra!
As leis e as
regras sociais em vigor, tal como as que regem a minha própria consciência, definem
com clareza que todo o cidadão é inocente até que se prove o contrário. O ónus
da prova cabe a quem acusa.
E não aceito que,
pelo simples facto de viajar no avião, suspeitem de mim e procurem provar
acusações que nem sequer ainda as formularam. Um pouco na linha do
cristianismo, onde pelo simples facto de existir sou pecador.
Não aceito! Não
tenho esse comportamento de suspeição permanente para com os outros nem aceito
que o tenham para comigo. Não deixo que a sociedade cheia de medos e vigilâncias
ponha em causa a minha inocência ou boa-fé.
Ora, sendo certo
que não poderei embarcar num avião sem passar por essa indignidade – que não
imponho a ninguém ao entrarem em minha casa – pura e simplesmente não viajo de
avião.
Escolho outros
meios de transporte que não me insultem nem partam do princípio que sou culpado
mesmo antes de me conhecerem sequer.
Se e quando tiver
que fazer uma longa viagem de muitas horas, optarei por outros meios de
transporte e gerirei o tempo em função disso. Mesmo transatlânticas.
Se não for possível…
bem, há sempre tanto no mundo onde não fui e que não conheço, que outros
destinos se propiciarão.
Mas a minha
dignidade e coerência não se vende por trocos ou milhares de quilómetros.
By me
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