Assusta-me ver
gente ligada à comunicação social, capaz de reconhecer um ministro, futebolista
ou cantor, mas que não saiba o que foi a Comuna de Paris.
Eu sei que foi no
séc. XIX. Que foi em Paris, França, que nada tem a ver com Portugal. Que durou
pouco e foi cruelmente esmagada.
Mas, queiram-no ou
não, gostem ou não do que se passou, esteve na origem de muito do que sucedeu
no séc. XX e sucede ainda no nosso século.
E custa-me ver
gente ligada à comunicação social, eventualmente com licenciaturas, que
desconhece que nessa revolta popular foram usadas as fotografias então feitas nas
barricadas para encontrar os revoltosos que sobreviveram aos combates e fuzilá-los.
Goste-se ou não, a
história da fotografia está intimamente ligada à comunicação social. Nas
reportagens das grandes revistas que foram marcos no séc. XX, nas reportagens
feitas nas guerras do séc. XIX, na forma como os jornais, usando a fotografia, “trouxeram
novos mundos ao mundo”.
O exotismo das
terras distantes, as esfinges reais, a natureza… a fotografia, através dos
jornais e revistas colocou o distante nas mãos de cada um, a par da palavra
escrita.
Ver gente, mais
decano ou mais neófito, a ignorar marcos importantes da história do seu ofício,
a ignorar marcos importantes da história e das suas origens… como se pode contar
ou interpretar o presente se não se conhecer o que lhe deu origem?
A fotografia?
Feita por Didérie
após a Comuna de Paris, mostra alguns do Comunards executados depois da
derrota.
Muitos deles foram
identificados através das fotografias feitas durante a comuna, em que os
revoltosos se deixaram fotografar com o orgulho próprio de quem quase não sabe
o que é uma fotografia e de quem luta por aquilo em que acredita.
Hoje, e para além
das fotografias, temos os vídeos dos amadores, dos profissionais e das forças
da ordem, bem como as câmaras de vigilância que, supostamente, existem para
nossa protecção.
Assusta-me ver
profissionais da comunicação social a desconhecer isto do passado e a não
reconhecer os sinais no presente.
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