É certo que o fotógrafo
é aquele que, e para além de todas as questões técnicas e estéticas, procura o
fora do comum.
O raro, o
estranho, o insólito, o dissonante… tudo isto faz com que os seus sentidos
estejam sempre alerta. Mesmo não o sabendo.
Vinha das compras
no supermercado. O peso era pouco e vinha de olho numas ervas na beira do
caminho. Se o sol fosse generoso e se não apressasse o passo, talvez que
valesse a pena um “boneco”.
Mesmo pelo canto
do olho, quase diametralmente oposto ao local onde estavam as ervas, senti o
movimento: uma dissonância no ritmo das janelas daquela fachada bem grande.
Olhei.
E fui, mesmo não
vendo o que me atraíra.
E se já é, de si
mesmo, triste o apelo que os Pai Natal de plástico fazem das janelas à
felicidade natalícia em torno e quase que só das prendas que talvez nem venham,
pior ainda é vê-lo assim, sujo e molhado, já sem forças para se agarrar numa
qualquer janela suburbana.
Fiz o registo,
impoluto na forma e no conteúdo.
Mas, antes de me
afastar, aquele pedacinho de mim que ainda sonha fez-me levantá-lo, sacudir-lhe
o pó e a água, e deixá-lo pendurado na porta do prédio.
Quem sabe, e com a
vida como anda por estes lados, se não será ele mesmo, assim encontrado, a
prenda de quem mais não tem para dar.
E são tantos…
By me
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