Aconteceu uma
destas noites. O maior pesadelo de quem utiliza comboios já tarde: Adormeci
sentado no banco, encostadinho à janela.
Nada de grave, em
regra. Costumo acordar uma ou duas estações antes e fico logo em estado de
alerta.
O pior que me
aconteceu, anteriormente, foi ir parar mesmo ao fim da linha. No último
comboio. Felizmente a noite não estava bera e voltei “à pata”. Uma canseira que
me deveria servir de lição. E serviu, anos a fio.
Mas não desta vez.
Teria eu que mudar
de composição, que aquela em que seguia, “agulhava” e ia terminar numa estação
no meio do nada. Adormeci e acordei já aí, com o imobilizar do comboio.
Apercebi-me quase de imediato da bronca e, já no cais quase deserto, inquiri o
maquinista, que entretanto havia desembarcado, a que horas regressava aquele.
Ou o seguinte.
Não regressava. Melhor:
não regressava com passageiros, que ia recolher.
“Ora batatas!”
exclamei, descrevendo a situação. E acrescentando que, ali e àquela hora, nem táxis
havia.
Perguntou-me para
onde queria eu ir, o que respondi.
E, para meu
espanto, propôs-me dar-me boleia, no comboio de regresso, que seria de
imediato. Deixava-me na estação intermédia, onde eu deveria ter descido. Com a
recomendação que tinha que sair logo e na porta da frente, já que não podia
transportar passageiros e pararia apenas na ponta do cais da estação em causa.
Só não lhe dei
dois beijos porque, àquela hora, até parecia mal. Aliás, eu e um outro, pouco
habituado àquela linha, que estava em apuros parecidos.
Lá fomos, com o
comboio de luzes interiores apagadas, e deixou-nos onde combinado. Já do cais,
e tendo acelerado o passo, fiz-lhe os mais repenicados gestos de agradecimento
pela janela frontal da máquina, que a estação também estava pouco iluminada.
É-me muito mais fácil
desejar um feliz Natal e um próspero ano novo a este completo desconhecido (que
nunca conseguirei reconhecer aquando do exercício do seu ofício que as cabinas
das máquinas estão sempre escuras para quem está na estação) que aos outros, os
conhecidos ou colegas que, nesta altura do ano, nos entopem as caixas de
correio com votos de “festas felizes”, apesar de nem nos saudarem quando se
cruzam connosco no trabalho ou na entrada do prédio.
A hipocrisia é
danada, mas eu tenho mau feitio!
By me
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