O assunto surgiu
quase naturalmente.
Estava de conversa
com alguém que faz do conceber, executar e gerir luz em espaços cénicos o seu
ofício. E eu tentava explicar porque é que gosto tanto de iluminações em que a
luz principal venha do lado de lá do assunto (ou da linha d’ombros).
A explicação não é
fácil e, em boa verdade, é fazê-lo bem mais trabalhoso e complexo que assumir a
luz principal do lado de cá, do lado da câmara, como mandam os manuais e as
práticas correntes.
Estávamos nesta,
com argumentos técnicos e estéticos, quando ele disse algo que me fez parar.
Aliás, o mundo parou por uns segundos até eu digerir bem o que havia ouvido:
“As pessoas
procuram a luz!”
Claro que isto é
verdade. O ser humano depende da luz para viver. Para se relacionar com o mundo
circundante e da energia solar para se alimentar e produzir oxigénio. E é do
conhecimento geral as mudanças de humor em função de o sol estar ou não
visível. Vejam-se os olhares matinais ao constatar um céu encoberto ou azul e
os sorrisos de quem acaba de sair de um lugar fechado, sem luz natural.
Claro que as
pessoas procuram o sol!
Mas procuram o sol
de frente? De lado? Nas costas?
Andei a verificar
comportamentos, pese embora a conversa tenha sido há pouco tempo.
Para o usufruir do
sol, quer pela satisfação de o receber, quer para um clássico pôr-do-sol, o ser
humano enfrenta o astro-rei de frente. A radiação total, as cores que se vêem,
o”romântico” da paisagem…
Agora no
quotidiano, nos afazeres que nos ocupam o tempo, mesmo para perscrutar o
longínquo, a preferência é o sol lateral ou, melhor ainda, nas costas. Excepto
se for tarefa miúda, como a escrita, em que se procura ter o sol (ou a fonte de
luz) do lado oposto à mão que a executa. Queremos que a luz incida no que
fazemos e não que nos obrigue a fugir com os olhos dela.
Claro que os
manuais de fotografia e de iluminação preferem que a luz venha do lado da
câmara, incidindo de frente ou de lado no assunto. A imagem resultante ficará
mais contrastada, os relevos mais visíveis, as cores mais saturadas, os brilhos
mais evidentes, incluindo os dos olhos… E, do ponto de vista da execução, é bem
mais fácil trabalhar assim. Por vezes, uma só fonte de luz “faz a festa”.
Por outro lado
ainda, é assim que eu, enquanto observador, procuro ver o que acontece: com a
luz do sol atrás ou de lado.
Mas não é assim
que os retratados se encontram. A menos que estejam a saborear o calor do sol,
a sua posição habitual não é frontal ao sol. Quase nunca, se o puderem
escolher.
Sobra assim, e
falando de fotografia e de retrato, aquela dúvida:
Devo assumir que
quero ver todos os detalhes e texturas, tirando partido das cores e sombras,
falseando a posição natural do retratado, ou devo procurar uma luz que
corresponda, realmente, àquilo que ele/a faz e escolhe, deixando de parte a
minha própria visão e procurando a naturalidade?
Do ponto de vista
estético os resultados são completamente diferentes, do ponto de vista de
interpretação também.
Será um fotógrafo
um “voyeur” ou um interventivo?
Continuarei a
fazer retrato (ainda que o faça muito pouco), paisagem e estúdio concebendo ou
procurando a luz “do lado de lá”. Agrada-me e tenho diversos motivos para isso.
Alguns não são fáceis de explicar, e muito menos passíveis de serem resumidos.
Mas agora tenho
mais um motivo.
By me
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