Quando eu era
pequeno não gostava de sopa. Coisa que a maioria das crianças não gosta. E de
que ainda hoje não gosto particularmente.
Em qualquer dos
casos, naquele dia não me apetecia a sopa de forma alguma. Não sei se estaria a
fazer birra, mas o meu desagrado seria bem patente.
A ponto de me ter
sido proposto, pelo adulto presente, um negócio: eu só comeria metade da sopa.
E, para melhor concretizar a proposta, com a colher dividiu a meio o conteúdo
do prato. Só a metade mais próxima de mim seria para comer, a outra ficaria.
Maravilha, das
maravilhas! Não sendo uma vitória, também não era uma total derrota. Seria,
usando termos actuais, um empate técnico, ao qual aderi de imediato.
E a colher na
minha mão nunca ultrapassou nem um milímetro a linha imaginária existente a
meio do prato que dividiria a sopa em duas partes.
Claro que, quando
cheguei ao fim do que estava na minha metade, a outra metade tinha sido
igualmente comida. E apercebi-me do enorme embuste de que tinha sido alvo.
Ainda hoje me
recordo da frustração que senti. Para além de ter feito o que não queria, tinha
sido enganado por quem eu confiava. E já lá vão quarenta e muitos anos.
A sensação que
tenho hoje, sobre o que se passa no país é semelhante.
Muitos foram os
que confiaram e aceitaram o “negócio” proposto por quem seria de confiar.
Muitos mas não todos, entenda-se.
Que muitos são
também aqueles que já não vão em cantigas e conversas de “metade da sopa”,
sabendo com toda a certeza que a proposta é enganadora.
Quando todos
estiverem convencidos disso talvez que nem metade da sopa seja comida e que as
vontades sejam cumpridas.
É que quer-me
parecer que esta sopa não só é de pacotilha como está mesmo envenenada.
By me
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