segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A sopa




Quando eu era pequeno não gostava de sopa. Coisa que a maioria das crianças não gosta. E de que ainda hoje não gosto particularmente.
Em qualquer dos casos, naquele dia não me apetecia a sopa de forma alguma. Não sei se estaria a fazer birra, mas o meu desagrado seria bem patente.
A ponto de me ter sido proposto, pelo adulto presente, um negócio: eu só comeria metade da sopa. E, para melhor concretizar a proposta, com a colher dividiu a meio o conteúdo do prato. Só a metade mais próxima de mim seria para comer, a outra ficaria.
Maravilha, das maravilhas! Não sendo uma vitória, também não era uma total derrota. Seria, usando termos actuais, um empate técnico, ao qual aderi de imediato.
E a colher na minha mão nunca ultrapassou nem um milímetro a linha imaginária existente a meio do prato que dividiria a sopa em duas partes.
Claro que, quando cheguei ao fim do que estava na minha metade, a outra metade tinha sido igualmente comida. E apercebi-me do enorme embuste de que tinha sido alvo.
Ainda hoje me recordo da frustração que senti. Para além de ter feito o que não queria, tinha sido enganado por quem eu confiava. E já lá vão quarenta e muitos anos.

A sensação que tenho hoje, sobre o que se passa no país é semelhante.
Muitos foram os que confiaram e aceitaram o “negócio” proposto por quem seria de confiar. Muitos mas não todos, entenda-se.
Que muitos são também aqueles que já não vão em cantigas e conversas de “metade da sopa”, sabendo com toda a certeza que a proposta é enganadora.
Quando todos estiverem convencidos disso talvez que nem metade da sopa seja comida e que as vontades sejam cumpridas.
É que quer-me parecer que esta sopa não só é de pacotilha como está mesmo envenenada.  

By me

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