Ao longo de todos
estes anos de profissão, uma tarefa houve que nunca me foi atribuída:
transmissão de cerimónias religiosas em Fátima.
Confesso que não o
lamento. Se por um lado não sou crente e o que ali acontece pouco me diz do
ponto de vista espiritual, o trabalho é, pelo que me tem sido descrito, uma
verdadeira seca ou uma verdadeira molha. Do piorio.
Assim, este treze
de Outubro não estou, uma vez mais, em Fátima.
Não significa
isso, bem pelo contrário, que não esteja a trabalhar. Hoje estarei a fazer
aquilo que me for pedido ao serviço do meu empregador, num daqueles horários
malucos a que já estou habituado desde longa data.
Mas também não
poderei estar naquele lugar que juntará igualmente alguns valentes milhares de
pessoas, igualmente movidas pela fé.
Uma fé que lhes
diz que o futuro é seu e que estão ali para o demonstrar, uma fé que lhes diz
que a sua vida lhes pertence e não a uns quantos, poucos, que têm vindo a
decidir sobre ela com demasiada violência, uma fé que lhes diz que a democracia
não se esgota no acto eleitoral e que a vontade do povo tem que ser respeitada,
mesmo que expressa na rua.
Esta fé, que
partilho com intensidade, será expressa uma vez mais na Praça de Espanha e
demonstrada sob diversas formas. Uma delas transfronteiriça: o “Global Noise”.
A confirmar-se o
previsto, pelas 17 e 21 horas, ali como em muitas outras cidades do mundo
(fala-se em mais de 200 em todos os continentes), os presentes manifestarão a
sua fé e a sua vontade com barulho, tal como ontem e hoje o foi feito com
cânticos e orações em Fátima.
A forma clássica
de o fazer será com tachos e panelas, artigo barulhento se usado com esse fim e
existente em qualquer casa ou recanto do mundo. Estou em crer que a pateada,
muito usada em salas de teatro se o espectáculo desagrada, também servirá, caso
o local onde se estiver ecoe quanto baste. Aliás, acrescento que esta forma de
protestar ou manifestar a fé seria bem mais eficaz, já que além do som de
protesto, faria tremer os alicerces daquilo que já tem sua estrutura bem mais
que podre: o sistema político actual.
Acontece, porém,
que sou pouco ortodoxo. Se pudesse estar presente, usaria este apito no lugar
de tachos e panelas. É que, e para além de fazer o mesmo ou mais barulho
enquadrável na circunstância, me deixaria as mãos suficientemente livres para
poder fotografar. Manias.
Mas sendo certo
que não poderei comparecer (até porque alguém tem que garantir que o evento é
captado e difundido), este mesmo apito estará no meu bolso.
E garanto que lhe
darei bom uso, pelas 17 e pelas 21 horas, se nesse mesmo momento não estiver
agarrado a botões, ajustando gamas, RGB’s e íris várias.
Para todos os que,
por um ou outro motivo, não puderem estar ali ou nalgum dos outros locais
previsto para esta manifestação de fé e vontade, fica o exemplo e o desejo que
o possam fazer e continuar a fazer em consciência e liberdade.
Nota extra: para
aqueles que como eu possuem um apito destes, por este ou aquele motivo,
lembrem-se que ocupa pouco espaço no fundo de um bolso ou bolsa e que uma
janela ou esquina de rua também servem.
By me
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